Q&A Runners Brasil
Q&A Runners Brasil – Giovanna Costa Martins
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1 ano atrásem
Antes de aprender a ler e escrever, ela já corria. Aos cinco anos, Giovanna Martins descobriu o que há 35 anos a move. Campeã cinco vezes da Maratona da Disney, recordista de várias provas, campeã Sul-americana, medalhista do Mundial de Duathlon, duas vezes melhor atleta do Troféu Brasil, há apenas três anos migrou para as montanhas e trilhas, e já é uma das melhores atletas do trail do Brasil. Faz parte da Seleção Brasileira e em junho deste ano representou o país no Mundial de Trail, na Áustria e se consagrou Top 5 das Américas. Dona de uma fé inabalável, é fã de Ayrton Senna, corre em hipnose, e tem um coração que sempre cabe mais um. Com o propósito de ajudar as pessoas em todos os lugares que passa, Giovanna tem um projeto social que atende mais de 150 crianças na região de Salto (SP) e almeja trazer uma pista escola para o Brasil. Quer chegar ao topo do Everest e sonha em fazer um Ironman. Uma vida dedicada ao esporte que Giovanna contou para a Runners Brasil, já com a malas prontas para mais uma vez levar o Brasil para as montanhas da França.
Sabine Weiler: Por que você começou a correr? Alguém te inspirou?
Giovanna Martins: Comecei a correr em 87 em uma brincadeira de criança, incentivada pelos meus pais, que foram atletas amadores. Meu pai foi do atletismo do Exército. Tudo começou quando fui com a minha irmã mais velha ver uma prova deles na USP. Quando vimos o pelotão entrando para a largada, logo falamos: ‘Vamos apostar corrida? Quando o pessoal passar aqui, a gente vai correndo atrás’. E foi o que fizemos, mas sem noção. No meio da corrida, que era de 10km, nós encontramos com a minha mãe! Quando vimos a chegada, demos um ‘sprint’ deixando a minha mãe para trás, e completamos a prova sem caminhar. (risos) Depois desse dia, meu pai viu que tínhamos talento, e começou a treinar a gente para participar de provas. Com 5,6 anos já fazíamos corridas longas. Nessa época eu usava bota ortopédica, e foi na corrida que vi uma oportunidade de trocar pelo tênis. Essa deficiência me limitou um pouco, até uma professora quando meu viu de bota, achou que eu era deficiência. Mas quando ganhei a minha primeira medalha, na Corrida Antifumo na USP, de 10km, e fui campeã na categoria infantil e a segunda entre as mulheres adultas, eu fiz questão de levar e mostrar para a minha professora que eu tinha condições de fazer atividade física.
Sabine: Como foi a mudança para o Trail Run. O que te levou para as trilhas e montanhas?
Giovanna: Descobri o trail, treinando para maratonas. O Décio Ribeiro, meu auxiliar técnico me incentivou também, acreditou no potencial que eu tinha para a corrida trail. Meus avós sempre tiveram sítio, e meu pai é formado em Meio Ambiente. Eu sempre gostei desse contato com a natureza, além da aventura, que é enfrentar uma corrida trail à noite, subir montanhas, cruzar matas fechadas. Eu falo que antes, meu maior concorrente era outra atleta, que eu olhava para trás para ver onde ela estava. Já na montanha, eu não posso olhar, senão eu caio. Então meu maior adversário na corrida em montanha é a própria natureza, e isso me apaixonou! Eu sempre gostei de codificar, calcular meu treino, e no trail a gente tem que fazer muito isso. Hoje, meu maior objetivo é colocar o Brasil nos Tops 10 do mundo trail. Vou me preparar o Mundial de 2025 e espero estar na Seleção Brasileira de novo. Na UTMB (Ultra Trail du Mont Blanc) eu quero fazer as 100 milhas, é meu grande sonho, e se conseguir, chegar entre as Top 15, posição que fecha o pódio! Espero para o ano que vem, já encarar essa prova. Esse ano serei voluntária em Chamonix, na França, na MCC (Martigny Combe) da UTMB, quero ter essa experiência de trabalhar numa prova na Europa. Eu acho que é no Trail mesmo que eu vou encerrar a minha carreira de atleta. Ainda tenho um sonho de subir o Everest, então após minha vida competitiva, o próximo foco vai ser a subida. Chegar lá em cima no topo vai ser a consagração de tudo que eu fiz na vida.
Sabine: Você é considerada uma das melhores atletas do Brasil no Trail Run. Quanto tempo foi entre o início na modalidade até essa conquista?
Giovanna: O trail eu comecei como amadora, não tinha pontuação nenhuma no ITRA (Internacional Trail Running Association), em 2020. Mas hoje, eu me considero uma das melhores atletas multiesportivas do Brasil, porque eu tive bons resultados na pista, na rua, no duathlon e hoje tenho bons resultados no trail. Essa variedade de modalidade e estar sempre entre as melhores do Brasil, acho que sou uma das únicas brasileiras. Eu corri 800 metros na pista para 2m13s, isso treinando para maratona, difícil uma maratonista fazer essa marca. Eu corri meus primeiros 100km e fiz índice para o Mundial, com 8h42m. Eu amo o esporte, então esse resultado é a consequência de toda uma dedicação.
Sabine: Qual foi o maior desafio para chegar ao topo do Trail Run?
Giovanna: Eu já tive dois grandes desafios no trail. A CCC ((Courmayeur – Champex – Chamonix) no ano passado, fiz meu primeiro 100km. Cheguei a treinar 250/300km por semana, fiquei 30 dias na França. Infelizmente tive uma inflação no seio, por causa do anticoncepcional, e a prova não foi como eu queria! Mas corri abaixo de 15 horas, foi a melhor pontuação do Brasil, dos últimos tempos nos 100 km com a altimetria de 6.000m. Já o maior nível de competição que eu participei, foi o Mundial na Áustria (junho/23). Uma prova de grau superdifícil, montanhas com inclinação de 45%. A prova de 87km teve uma média de 18.5% de inclinação e 6.500m de altitude. Eu fui a 35ª do mundo. Eu saí de 86 no ranking do mundial para 35 sendo, a primeira Sul-americana, e a Top 5 das Américas. Então para mim foi um resultado espetacular. Até porque esse ano iniciei com provas mais curtas. Mas 45 dias antes do Mundial, quando recebi a notícia, eu me dediquei muito, aumentei o volume, a altimetria e encarei. Então pelo tempo que eu tive, não ter treinado em altitude, e eu senti muito na primeira subida que chegou a 2.900m, mas eu estava muito bem psicologicamente. No final eu fui crescente na prova e passei muitos atletas. O Mundial deixou aquele gostinho de quero mais, para tentar buscar um bom resultado em 2025.
Sabine: Quando você decidiu entrar para o Trail Run, já tinha como objetivo ir para um Mundial, ou foi descobrindo esse sonho com os treinos e provas, e seu desempenho nas montanhas?
Giovanna: Meu objetivo desde o início foi participar de um Mundial, mas eu sabia que seria difícil chegar, que eu ia ter que passar por toda essa transformação. Eu tive que entrar no ITRA como amadora, não tinha pontuação nenhuma, mas com a minha evolução, cada vez mais, fui acreditando que eu ia estar no Mundial.
Sabine: Como foi a experiência de participar do Mundial na Áustria, no mês de junho? Como é representar o país numa competição mundial?
Giovanna: Foi a coroação de todo trabalho que venho tendo desde 2020, de ter migrado da rua para o trail. É coroar a dedicação de todos os meus apoiadores desse projeto, do meu marido que me incentiva muito. Então passou um filme quando eu coloquei a camisa do Brasil de novo! Eu já tinha integrado a Seleção Brasileira duas vezes em Sul-americanos e em dois GPs, mas fazia tempo, então foi muita emoção. Eu chorei a abertura inteira. Eu queria ir buscar um bom resultado para o Brasil, estar entre as 40 melhores no mínimo, mas sabia que o nível era muito forte. Eu era uma das poucas do mundial e acho que a única do Brasil, que não moro numa cidade de montanha. Então meus treinos são muito adaptados, não tem altitude. Isso me dá mais motivação, mais orgulho, me desafia cada vez mais a buscar o resultado. Eu dei tudo o que tinha naquele momento.
Sabine: Qual foi a sua conquista mais significativa até agora e por que ela é especial para você?
Giovanna: As cinco vitórias na Maratona da Disney. Essas conquistas foram me projetando no esporte. Já sou atleta há 35 anos, já tinha vencido o Sul-Americano, tinha sido medalhista no GP Internacional, duas vezes melhor atleta do Troféu Brasil, mas a Maratona da Disney me destacou muito. Uma prova de muita visibilidade. E claro, o Mundial, por eu ter 45 dias para me preparar, ter enfrentado as melhores atletas do mundo, e ter ganhado de muitos atletas que vivem na Montanha. Na Europa o Trail é supervalorizado.
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Sabine: Quais são os aspectos mais difíceis de competir em corridas de trail run?
Giovanna: A maior dificuldade é a questão da logística, de morar numa cidade onde não tem montanha. Então quando chega mais próximo das provas, eu tenho que viajar para treinar, acordo às 3 horas da manhã. Tem dia que eu treino sete horas seguidas, faço 60/70 km. Depois volto e vou trabalhar. Mas o legal é que eu tenho grandes descobertas. Digo que quando eu tenho um tênis no pé e dois bastões na mão, eu vou longe! A cada dia estou num local treinando, descobrindo como o Brasil é lindo, como a nossa natureza é maravilhosa. É de tirar o fôlego! Quanto mais alto, mais dificuldade a gente tem para subir, mais bela é a paisagem que você vai encontrar no cume da montanha.
Sabine: Quais são os principais elementos que você considera ao escolher suas provas de trail run?
Giovanna: Quando eu vou escolher uma prova, eu tenho que ter um objetivo, e um deles é ajudar as pessoas. Vou para a França para ser voluntária na UTMB, para ajudar o corredor que treinou o ano todo para dar o seu melhor, e para criar laços e ser parceiro do país, porque tenho um sonho de trazer uma pista escola para o Brasil, onde a criança vai treinar e estudar. Então, todo passo que eu dou no esporte hoje, é preencher essa paixão que eu tenho pelo atletismo que me desafia. Tento levar uma mensagem, fechar algum apoio, alguma parceria para ajudar as crianças do meu projeto, ou alguma outra entidade.
Sabine: Como você se prepara mentalmente para as corridas de trail run? Existem estratégias específicas que você utiliza para lidar com os desafios mentais durante as provas?
Giovanna: A parte psicológica para mim é 99%. Eu descobri isso na minha primeira maratona, quando passei mal. Para a segunda, que seria a minha prova alvo, a Maratona da Disney, eu comecei a aprender a treinar em hipnose e trabalhar a mente. Então quando chegava os últimos quilômetros, eu simulava provas dentro da prova, e os demais quilômetros eu terminava em hipnose. Então me concentrava a partir daquele momento. Não existia mais nada para mim. A hipnose é uma coisa que me ajuda muito. Tenho muita fé, meus momentos de orações, que vão ficando cada vez mais forte. Na véspera de prova, gosto de assistir os vídeos do Ayrton Senna, que eu sou superfã. Ele deixou um legado de superação. Também gosto de brincar de joguinho de celular ou na televisão. Eu tenho que chegar até a fase 10. Mas se eu passar da fase 5, eu sei que eu estou bem concentrada para o desafio. Eu vejo tudo até três dias antes da prova, depois só me concentro e não mexo mais nada relacionado, tento pensar só em coisas boas até o final da prova, e é isso que me leva até a chegada. Eu falo que eu corro com a frieza de um cientista, e cruzo a linha de chegada com a emoção de um artista. Eu danço, pulo, grito, comemoro, porque não é fácil ser atleta nesse país, superar os limites. Não foi fácil superar minhas deficiências. Mas estou praticando o que eu gosto e para mim, chegando em último, mas dando o meu melhor, é uma alegria. E quando atinjo meus grandes objetivos, aí é emoção pura.
Sabine: O que mais te motiva e te incentiva a continuar nos treinos firme e forte?
Giovanna: Eu sempre tenho um sonho, um objetivo para atingir. Sempre estou com uma prova engatilhada. Já estou pensando em atingir o cume do Everest, e fazer um Ironman como participação, porque o ciclismo é minha paixão também. Eu tenho um sonho de ter uma medalha do Ironman. Mas agora é competir no Mundial em 2025, e depois vou encerrar minha carreira competitiva! O que me motiva mais é essa benção que Deus me deu. Estar com 40 anos, com mais de 35 no esporte, ainda conseguindo treinar e competir sem ter nenhuma cirurgia, sem ter nenhuma lesão grave. É Deus abençoando a minha vida todos os dias.
Sabine: Como é a sua semana de treinos? Como concilia a sua carreira de atleta com outros aspectos da sua vida, como trabalho e família?
Giovanna: Eu tenho meus dias todos programados. Acordo entre 3 e 5 horas da manhã todos os dias. Treino de manhã, trabalho, descanso, almoço, trabalho em casa, treino. Meu marido me ajuda muito, é meu braço direito. Tem dias que estou com a lanterninha na cabeça e ele está me acompanhando, com o farol ligado. Tem um grupo de professores que trabalha comigo que me auxilia nos trabalhos, meus alunos e bons amigos que me dão força! Eu tenho um estúdio onde sou coordenadora, dou aula, avalio alunos, atendo personal em condomínios, trabalho na assessoria de corrida onde uma vez por semana vou em todos os polos. Sou embaixadora e professora do Projeto Sementinha. Sou Rotariana. O principal para mim é amar e servir ao próximo. Então eu quero me dedicar às pessoas, seja com a minha profissão ou como voluntária, dando exemplos dentro do esporte.
Sabine: Como é o trabalho no Projeto Sementinha que você criou?
Giovanna: O Projeto Sementinha é para alunos entre 6 e 17 anos e já vai fazer 10 anos, em agosto. Algumas crianças recebem a bolsa de incentivo e tenho alguns amigos solidários que me ajudam com a parte financeira e às vezes doação de tênis. Eu dedico todo mês, 5% do meu salário para esse projeto. Se o aluno não se tornar atleta, a gente indica para o mercado de trabalho. Temos uma parceira onde eles têm a oportunidade do Menor Aprendiz, fazendo cursos dentro da empresa e trabalham um período. O nosso projeto exige que a criança esteja estudando. É um projeto que a gente tenta mostrar o caminho do esporte com boa oportunidade, seja ele como atleta ou para educar para a vida.
Sabine: Qual seu próximo objetivo no trail run? Alguma prova foco ainda este ano?
Giovanna: O meu próximo objetivo é repetir a prova da MCC – UTMB Mont Blanc, viajo dia 24 de julho para a França e fico até dia 3 de setembro. A prova é dia 28 de agosto! Espero fazer um bom resultado para o Brasil. Depois vou fazer a UTMB Parati (24/09) e em seguida vou fazer a Maratona da NASA, no asfalto. Estou com saudades dos Estados Unidos.
Sabine: O Trail Run tem crescido muito no Brasil e no mundo. O que você acredita que tem feito muitos corredores migrarem para as trilhas e montanhas?
Giovanna: A correria do dia a dia, todo mundo corre contra o tempo, o trânsito, as poluições sonora e visual! Então você chega na natureza e vê aquelas paisagens de tirar o fôlego, aquele som dos pássaros, fora a socialização também que é uma característica das provas de montanha, um ajuda o outro. Eu acho que é isso que vem fazendo esse mundo do trail crescer. As pessoas estão migrando bastante e no Brasil vem crescendo muito, embora perto dos países europeus ainda está gatinhando, mas tende a crescer mais. As mulheres estão vindo com tudo! É o hormônio do bem, para a cabeça. Tem a questão do medo, que muita coisa você supera na corrida. Então vale a pena, eu torço muito, e vestindo essa camisa do trail.
Sabine: Que dica você dá para quem está começando no trail run, ou busca performance nas corridas de trilhas e montanhas?
Giovanna: Para quem quer migrar para o trail, identifique qual é o tipo de calçado, mochila, todo material que faz a diferença. Procurar um treinador que seja especialista em corrida trail. Fazer uma avaliação física do coração, do pulmão. No ano passado eu descobri que tenho fibrose no pulmão, então eu me programo para chegar no mínimo uma semana antes na altitude, ou ir treinando pelo menos a uma atitude em 1300m para não ter esse acúmulo de líquido no pulmão. E claro, aos pouquinhos ir aumentando a distância e não tentar logo uma prova longa. No ITRA, por exemplo, existe a exigência de inscrições em competições determinadas para pontuar, até por conta da segurança, quanto mais pontuação, mais a pessoa tem experiência. Se for sair para trilha leve sempre material de segurança, de emergência, apito, manta térmica, corta vento, alimentação. No trail eu como até macarrão no meio da prova. Ter uma nutricionista que entenda sobre alimentação para a corrida, e sempre hidratar muito. Se sentiu sede, é porque já está desidratado. E digo mais uma coisa: “Vem pro trail, que você não vai se arrepender”.
Por: Sabine Weiler
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“Aproveitar a jornada com qualidade e alegria é primordial”. Doutor Corrida, como o próprio nome nas redes sociais já diz, é médico ultrassonografista, corredor e um viajante incansável. Em seis anos entre trilhas e asfaltos, Adriano Gomes Muniz Pereira, coleciona uma jornada apaixonante e admirável pelo mundo e vive cada corrida com uma intensidade única. Só em 2023, enfrentou a incrível marca de 29 provas entre maratonas e ultramaratonas, e começa o ano em busca de mais conquistas e novas experiências por paisagens de tirar o fôlego. Adriano também é criador de conteúdo, e leva às redes sociais, cada nova descoberta, seus treinos, dicas para os amantes do esporte e notícias do mundo da corrida. Sua comunidade nas redes sociais já ultrapassa 120 mil pessoas, entre instagram e Youtube. Mas como se recuperar diante de uma vida tão corrida em meio a uma rotina pesada no trabalho? É o que o pernambucano conta à Runners Brasil, em uma entrevista cheia de inspiração e motivação.
Sabine Weiler: Corrida para você, é sinônimo de longas distâncias. Qual foi o momento da sua vida de atleta que decidiu correr maratonas e ultramaratonas?
Doutor Corrida: No início comecei a participar das provas mais curtas como 10km. Sempre associei o prazer de correr em dois aspectos: o “curtir o caminho”, conhecer as paisagens e lugares em que estou correndo e o “superar um desafio”. Com o tempo notei que as longas distâncias me entregavam uma maior variedade de caminhos para curtir, e um desafio mais difícil, consequentemente um sentimento de superação maior. As longas distâncias acabam potencializando os fatores que me dão prazer na corrida.
Sabine: Como você escolhe as suas provas?
Doutor Corrida: Hoje em dia faço uma mescla de provas que gosto e quero correr, outras que não conheço, mas sou convidado e tenho boas referências dos amigos da corrida, e aquelas em que acho que apresentar a experiência será positivo para meus seguidores. Apesar de ser um corredor que gosta muito de correr em trilhas, acabo correndo muito provas de asfalto também. Costumo diversificar as experiências na corrida.
Sabine: Você viaja o mundo com a corrida! Como planeja cada prova no seu calendário?
Doutor Corrida: Apesar de algumas pessoas acharem que saio empilhando provas sem critérios, geralmente escolho três ou quatro provas alvo no ano e vou adaptando as outras para entrarem como ferramentas na preparação para essas provas. Não corro as provas sempre buscando performance, em 2023 foram 09 maratonas e 16 ultras, então é humanamente impossível performar em todas, cada uma tem o jeito correto de gerenciar segundo meus objetivos principais.
Sabine: Como é a sua rotina quando não está viajando? Como concilia o trabalho com os treinos?
Doutor Corrida: Sou médico e, ao contrário do que alguns pensam, não vivo só de correr, tenho uma rotina bem pesada, e para fazer o volume de treinos necessário, tenho que treinar antes do trabalho e a noite quando chego em casa. Treino dois períodos de segunda a quinta, descanso sexta, e sábados ou domingos tenho longos ou provas.
Sabine: Como você se recupera de uma corrida? Faz algum intervalo mais longo no pós-prova?
Doutor Corrida: Como as corridas são muito próximas uma da outra, faço uma recuperação ativa, onde diminuo o volume, e trabalho com massagens e regenerativos. Acaba não sendo muito complicado, pois tenho um corpo adaptado a esse ritmo e que considero de rápida regeneração. Ser médico ajuda muito por saber conhecer os diversos sinais corporais e, apesar de conhecer as opções de medicamentos, raramente recorro a algum deles.
Sabine: O que considera mais importante para que o corpo se recupere de uma prova de longa distância?
Doutor Corrida: Saber reconhecer os sinais e atuar naquilo que o corpo te apresenta. Reconhecer quando existe uma simples dor pós-atividade ou algo que pode evoluir para uma lesão, saber a hora certa de exigir dele após um estímulo mais intenso. Saber dialogar com ele.
Sabine: Qual foi a prova mais longa que você fez e descreva como foi o processo do pós-prova já pensando no próximo objetivo!
Doutor Corrida: A maior distância foi de 250km, porém foi dividido em quatro dias, o que facilitou o processo de recuperação. O desafio era uma ultra de 55km na semana seguinte que acabei fazendo com cautela e deu tudo certo. Já tive provas de montanha com mais de 30 horas de duração e geralmente uma semana seguinte de recuperação e treinos leves já funcionam para mim.
Sabine: Você suplementa? Que tipos de suplementos usa para ajudar na recuperação muscular?
Doutor Corrida: Considero que o melhor suplemento é disparadamente uma boa alimentação. Tento focar nisso na etapa pós-prova e realmente acho que faz diferença na recuperação. Algumas pessoas acabam querendo extravasar na alimentação nesse período e isso não é bom. Suplementos que uso no dia a dia incluem Creatina, beta alanina, glucosamina e condroitina. Mas sou reticente ao indicar o que uso para todos. Acho que cada caso é um caso e o melhor é que o atleta converse com um profissional de nutrição para avaliar bem suas necessidades.
Sabine: Usa algum tipo de tecnologia para se recuperar dos treinos diários ou de uma prova longa para iniciar um novo ciclo de treinamento?
Doutor Corrida: Único aparelho é uma pistola de massagem. Já usei botas de compressão pneumática, mas não uso rotineiramente.
Sabine: É adepto a algum tipo de alimentação que o ajuda nos treinos e na regeneração?
Doutor Corrida: Já fui o tipo de corredor que não ligava muito para a alimentação. Mas com o tempo realmente percebi que isso é um dos aspectos que mais faz diferença na vida do corredor. Uma alimentação balanceada e bem estruturada realmente funciona muito bem na performance e na regeneração do corredor, especialmente no que se diz a retirar os ultraprocessados e evitar o abuso de carboidratos, gorduras ruins e bebidas alcoólicas.
Sabine: Em algum momento da sua vida de atleta, você teve que parar algum treino ou até mesmo uma prova, e depois percebeu que não estava recuperado totalmente para voltar a correr? Se sim, como foi esse processo?
Doutor Corrida: Geralmente não costumo interromper treinos, apenas se sentir que há algum risco de lesão ou que está muito improdutivo. Prova só abandonei por trauma do joelho que bateu em uma rocha durante a corrida. No momento que algo assim acontece, tem que se avaliar os sinais que o corpo entrega e trabalhar bem na recuperação, ser profissional da saúde é fundamental para mim nesses momentos.
Sabine: Quais são suas metas para 2024 na corrida? Vem alguma prova inusitada, ousada?
Doutor Corrida: Trilheiro que sou, estou trabalhando para chegar a UTMB, que considero o mais alto patamar de minha categoria. Penso que a UTMB está para o trilheiro, como a Maratona de Boston está para o corredor do asfalto. Faço questão de perseguir esse sonho e mostrar a todos que também o tem, que ele é perfeitamente possível para um corredor amador, que tem uma vida normal, trabalha e tem boletos a pagar.
Sabine: O que te motiva a percorrer o mundo com a corrida? Você procura fazer provas que não existem no Brasil?
Doutor Corrida: Adoro viajar, viver experiências e culturas diferentes, e adoro correr. Por que não unir tudo isso? Geralmente tento correr entre duas e quatro provas internacionais por ano. Sei que é difícil para a maioria das pessoas, mas também sei que se programando e trabalhando nesse sonho, às vezes se consegue viver essa experiência.
Sabine: No seu Instagram você divulga seus treinos, provas e traz conteúdos que incentivam a corrida e curiosidades! Como você formou a sua comunidade que já chega a 100 mil seguidores?
Doutor Corrida: Acho que o principal é criar um conteúdo não focado só no que eu faço. Correr mais de 20 provas grandes em um ano não é o que o corredor normal vai fazer, certamente é uma realidade de poucos. Se só foco apenas nisso, qual o ganho real para o corredor normal? Na verdade, faço um conteúdo para todos, um corredor de trilha vai encontrar dicas para a trilha, um de asfalto vai encontrar dicas para o asfalto, aquele que precisa de uma palavra de estímulo vai encontrar essa palavra e até quem quer só se divertir e ver um meme de corrida vai achar um conteúdo para si também. Essa diversidade que atrai tantas pessoas para o meu perfil.
Sabine: A sua Bio do Instagram traz a frase “O maior desafio é superar o medo de falhar!” Como lidar e enfrentar isso?
Doutor Corrida: Muitos pensam que as maiores dificuldades são encontradas na prova em si, naquele momento em que podemos falhar ou não. Mas o momento em que superamos o medo de falhar acontece muito antes da prova em si: é no instante que mesmo podendo falhar, tomamos a decisão de lutar arduamente para superar todos os desafios! Essa é a hora chave da vitória – mesmo sabendo que pode dar errado, nos levantamos e partimos para o combate, nos inscrevemos na prova e iniciamos os treinos.
Sabine: Qual recado você deixa aos leitores da Runners Brasil?
Doutor Corrida: Muitos consideram a corrida como um esporte de competição, buscam sempre dar o melhor e conquistar os seus objetivos – e nada mal ter esses pensamentos. Mas meu conselho é: pensem na corrida como uma ferramenta de saúde e felicidade. Aproveitar a jornada com qualidade e alegria é primordial, o restante virá naturalmente.
Por: Sabine Weiler
Q&A Runners Brasil
Uma Odisséia Brasileira: Pedro Luiz Cianfarani na Barkley Marathon
Publicados
1 ano atrásem
28/11/2023De
Pablo MateusNa busca por desafios extremos, poucos eventos se comparam à lendária Barkley Marathon. Este ultramaratonista brasileiro, Pedro Luiz Cianfarani, alcançou um feito notável ao se tornar o segundo brasileiro a se qualificar para essa corrida mítica, depois de seis anos de determinação incansável. Neste Q&A exclusivo, Pedro compartilha sua jornada, revela os desafios enfrentados, e oferece insights valiosos sobre como ele está se preparando mentalmente e fisicamente para enfrentar os terrenos difíceis e condições imprevisíveis da Barkley Marathon. Vamos mergulhar nas profundezas deste desafio extraordinário e conhecer a mentalidade por trás dessa busca épica.
Runners Brasil: Como você se sente sendo o segundo brasileiro a se qualificar para a Barkley Marathon depois de seis anos de tentativas?
Pedro Luiz Cianfarani: Um sonho realizado!!! Quando comentei com um amigo escutei muito que seria quase impossível, mas provei que não era impossível, difícil sim, não impossível.
RB: Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo desses seis anos para alcançar a qualificação para a Barkley Marathon?
PL: Eu comentei que este desafio começa para conseguir ser chamado, pois como não tem um site ou app para fazer a inscrição tudo fica mais difícil e você precisa descobrir como ser convocado.
RB: Como foi o processo de seleção e qualificação para a Barkley Marathon? Quais critérios você teve que atender para se qualificar?
PL: Esta pergunta fica difícil responder por ética ao desafio, nem o dia da competição posso falar, são coisas que é pedido no único canal de informação da prova no Facebook que também é um grupo restrito. Esta competição é única por isso mesmo, pelo mistério que ela envolve.
RB: A Barkley Marathon é conhecida por seu terreno extremamente desafiador e condições climáticas imprevisíveis. Como você está se preparando fisicamente e mentalmente para enfrentar esses desafios?
PL: Sei que tudo neste desafio é feito para não completarmos e lutaremos o tempo todo contra. Já estou acostumado com desafios extremos onde levamos o corpo ao limite e mesmo assim sei que nada se compara. Tenho uma equipe de profissionais ao meu lado preciso aprimorar minha navegação com mapa e já estou contatando um profissional para me auxiliar. Minha equipe é coordenada pelo meu irmão que é um profissional de educação física com muitos anos de experiência.
RB: A navegação é fundamental na Barkley, já que não há sinalização clara. Como você está se preparando para a parte de orientação da corrida?
PL: Como disse anteriormente, já contatei um profissional para me auxiliar com navegação por mapa e irei intensificar meus treinos de Trail e força.
RB: O limite de tempo da Barkley é notoriamente difícil, com apenas 60 horas para completar as cinco voltas. Como você está planejando gerenciar seu tempo e energia ao longo da corrida?
PL: Já estou me programando no tempo de 12 horas por volta.
RB: O criador da Barkley, Gary “Lazarus Lake” Cantrell, é uma figura misteriosa e excêntrica. Você teve a oportunidade de interagir com ele? Se sim, que conselhos ou insights ele compartilhou?
PL: Já troquei muitos e-mails com ele principalmente quando me classifiquei para o mundial de Backyard (Resta 1), prova idealizada também por ele e que infelizmente não fui devido a pandemia. Quanto a conselhos ele fala muito pouco sobre a prova e conseguimos as dicas e conselhos pelos veteranos no Grupo do Google e Facebook.
Fotos: Arquivo Pedro Luiz
RB: Qual é a sua maior motivação para enfrentar a Barkley Marathon, considerada uma das corridas mais difíceis do mundo?
PL: A participação nesta icônica corrida irá coroar minha trajetória no mundo das ultramaratonas, já fiz as mais difíceis ultramaratonas no Brasil e no Mundo sempre sonhei com esta que seria a cereja do bolo, uma cereja um pouco amarga eu sei rsrsrs
RB: Você tem algum plano de estratégia específico para a Barkley Marathon, ou está aberto a improvisar à medida que a corrida se desenrola?
PL: Irei com uma estratégia, mas tudo poderá mudar conforme a corrida vai acontecendo. Um veterano de 6 participação na Barkley estará comigo para me ajudar no planejamento.
RB: Como você espera que sua experiência na Barkley Marathon influencie seu futuro como corredor de ultramaratona e seus objetivos no esporte?
Quero abrir as portas da Barkley para os Ultramaratonistas do Brasil e América Latina, sei que temos muitos ultramaratonistas de nível muito alto que se sairia muito bem.
Pedro Luiz Cianfarani
Nascido em 21 de abril de 1968 em São Caetano do Sul mudando para São Bernardo do Campo após o casamento em setembro de 1989.
Início nas corridas de rua em dezembro de 1998 na corrida de Natal no Ibirapuera e no mundo da Ultramaratona em 2006 em uma corrida de 6 horas organizada pelo Carlos Dias. Deste dia até hoje foram inúmeras provas de longa distância, 100 km, 50 km, 50 milhas, 12, 24 e 48 horas e provas como Brazil 135, Uai, 300 o desafio, Badwater 135, LLAJTAY BACKYARD ULTRA e outras.
Principais provas
Brazil 135 (217 a 260 Km pelo Caminho da Fé)- 12 participações e conclusões com melhor tempo de 35 horas / 300 o Desafio/RMR (300km pela Estrada Real) – 3 participações e conclusão – 3º , 4º e 5ª colocação / Badwater 135 (217km no Vale da morte) – concluída em 2018 / LLAJTAY Backyard Bolívia 2019 e 2023 (resta 1) – 2º colocado em 2019 – Com este resultado conseguido na Backyard Bolívia me garantiu uma vaga no mundial no Tennessee (EUA) que infelizmente não participei devido as restrições impostas pelos EUA devido a pandemia em fechar as fronteiras / 48 horas Internacional da Mantiqueira – 316 km – 2º colocado e 19º ranking mundial em 2018 /24 horas – foram muitas pelo Brasil (SP, RJ e Paraná)
Por: Pablo Mateus
“Não existe treino ruim, existe dia ruim por não ter treinado”. Marcelo Avelar, treinador e único atleta do mundo tricampeão da Meia Maratona da Disney, conversou com a Runners Brasil e traz dicas de como saber lidar com o processo para conquistar a distância desejada nas pistas. O que não pode faltar nos treinamentos, como evitar as lesões e muito mais para evoluir no esporte. Avelar, foi o melhor brasileiro na Maratona de Tokyo de 2023, treina centenas de pessoas pelo Brasil, e como todo corredor tem sonho de atleta.
Sabine Weiler: Qual a dica inicial que todo corredor deve saber para evoluir na corrida?
Marcelo Avelar: Todo corredor para evoluir precisa ter paciência e saber lidar com o processo. O dia da prova é “só” ir buscar a medalha. A conquista dela é em cada treino, cada abrir mão, cada gota de suor. O processo depende de muita paciência e saber que a construção vai ser de muita dedicação.
Sabine: Quais são as principais diferenças no treinamento entre correr distâncias curtas, e se preparar para uma maratona?
Avelar: As distâncias curtas dependem mais de intensidade do que volume. Quando falamos de 5km ou 10km por exemplo, falamos de intensidade, são provas mais curtas e que os treinos intervalados são mais valorizados que os treinos volumosos. A maratona depende mais de volume, de treinos mais longos e mais lentos se comparados para provas curtas.
Sabine: Alguns corredores podem até não gostar de fazer fortalecimento, mas é fundamental na corrida, para maximizar o desempenho e evitar lesões, não é mesmo?
Avelar: Os treinos de força, sejam eles de musculação ou funcional devem sim fazer parte da rotina de todo corredor. Claro que não são imprescindíveis, mas é comprovado que corredores que inserem esse tipo de treino no dia a dia sofrem menos lesões e tem melhoria no desempenho nos treinos e provas.
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Sabine: Como aumentar gradualmente a quilometragem sem correr o risco de lesões durante o treinamento?
Avelar: O aumento de volume se dá gradualmente e geralmente a cada 15 dias aumentam-se 2km a cada treino longo.
Sabine: Um corredor iniciante quando corre 5km, logo pensa nos 10km, e depois nos 15km. Existe um período para evoluir na corrida? Qual a dica para segurar a empolgação de um corredor e respeitar o processo para evoluir?
Avelar: Sugere-se que após 10 provas em média de 10km aumente o volume aos poucos até uma prova de 21km. A partir daí, o volume vai aumentando para talvez, uma maratona. Eu sugiro que após a 5ª ou 6ª meia maratona, acrescente volume aos poucos para uma estreia segura na maratona.
Sabine: Que tipo de treino é fundamental para o processo de evolução na corrida?
Avelar: Todos os treinos são importantes: ritmo, fartlek, intervalados, regenerativo e longos. Todos na medida correta se completam. Depende do objetivo para decidir quais praticar mais. Por exemplo, corredores se preparando para a maratona, damos ênfase em treinos mais longos, corredores de curta distância usamos mais intervalados e treino de ritmo. No geral os treinos se completam e o que decide o “uso” mais de um ou de outro é a demanda da distância escolhida. Ah, não podemos esquecer que descansar também é treino e são nos dias OFF que acontecem os ganhos.
Sabine: Quais são os sinais de alerta de ‘overtraining’ e como evitar o excesso de treinamento ao aumentar a distância percorrida?
Avelar: Sinais como insônia, falta de libido, não progredir, mau humor, fadiga extrema são sinais de que você está treinando muito e entrando em ‘overtrainnig’
Sabine: Quais são os principais obstáculos que os corredores enfrentam ao buscar a evolução e como superá-los?
Avelar: Se lesionar é o pior obstáculo e geralmente acontece pelo aumento de volume inadequado, falta de fortalecimento ou erros mecânicos na corrida. Uma técnica com movimentos básicos errados (aterrissagem, oscilação vertical excessiva etc.) podem acarretar lesões e afastar o corredor das atividades e isso desmotiva e traz muitas vezes o abandono da modalidade.
Sabine: Como um atleta pode ‘medir’ a evolução na corrida. Apenas com a melhora dos tempos?
Avelar: Melhorar os tempos nem sempre é sinal de melhoria. É necessário observar como tem chegado ao final dos treinos e das provas. Melhorar o treino indica melhoria sim, mas o corredor está chegando ao final dos treinos sem dores, sem aquela sensação de “quase morte”? Menor número de lesões e vontade de ir para mais provas? Isso tudo demonstra evolução.
Sabine: Além de um treinador, que outros profissionais são essenciais para o corredor evoluir na corrida?
Avelar: O treinador é quem prescreve os treinos e viabiliza o caminho para conquistar os objetivos, mas ter uma equipe multidisciplinar que conta com um nutricionista e fisioterapeuta são essenciais. De nada adianta ter um treino bem prescrito e não ter uma alimentação de acordo com a demanda de treino ou um fisioterapeuta para terapias manuais preventivas.
Sabine: Como que os alimentos e suplementos podem ajudar na corrida e em que momento que o atleta deve começar a fazer uso?
Avelar: Nem tudo que precisamos, conseguimos tirar dos alimentos, pois a demanda de nutrientes de quem corre é maior do que pessoas que não praticam a corrida. Por isso precisamos ter auxílio nutricional de alguns suplementos, como por exemplo gel de carboidrato, como intra prova.
Sabine: Você, como atleta, o que você mais aprendeu com a corrida?
Avelar: Aprendi que apesar de correr sozinho, a corrida se trata do esporte mais coletivo que existe. Sempre estaremos e precisamos de outros corredores. Além disso, aprendemos a conhecer limites do corpo e a respeitar todos, sem julgar se são lentos, rápidos, correm 5km ou maratonas
Sabine: Você é o único atleta do mundo a ser tricampeão da Meia da Disney. O que foi fundamental para manter a performance e defender o título a cada participação?
Avelar: A paixão pela corrida me fez manter a rotina de treinos. Conquistar a Disney foi consequência de um amor pela corrida e saber que a disciplina faz parte de uma sequência para a vida inteira, não somente um projeto e momento.
Sabine: Qual o sonho de atleta de Marcelo Avelar?
Avelar: Conseguir deixar um legado sobre a ferramenta que a corrida é. Uma ferramenta de transformação social e na vida das pessoas. Podemos através da corrida inserir pessoas no esporte, mostrando que todos somos capazes e que necessariamente não precisamos ser campeões, o que importa é sermos indivíduos transformadores do mundo, alegres e que podemos compartilhar isso pelo mundo.
Sabine: Você foi o melhor brasileiro na Maratona de Tokyo de 2023. O que representa essa conquista para você?
Avelar: Ser o melhor brasileiro em Tokyo com 2h30m32s na maratona foi uma conquista recheada de coisas boas. Tive a oportunidade de conhecer outro continente, uma cultura totalmente diferente e uma vivência que reforçou ainda mais meus pensamentos sobre respeito pelo próximo. Uma das experiências mais lindas da minha vida.
Sabine: Para encerrar, qual a mensagem você quer deixar aos leitores da Runners Brasil?
Avelar: Treinem! Não vão existir somente dias bons. Treine nos dias bons e treine mais ainda nos dias ruins. Na verdade, não existe treino ruim, existe dia ruim por não ter treinado.
Por: Sabine Weiler
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