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Q&A Runners Brasil – Armando Marchezani

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Qual corredor começa a correr com chuteira? Armando Marchezani. Aos 17 anos, apaixonado por futebol, começou a correr em chão de terra para buscar a performance para o esporte com bola. Mas a dedicação nos treinos foi ganhando forma e conquistando o paulistano. Não levou muito tempo para o campo ficar para trás, a rua se tornar o local das corridas e o foco ser o novo esporte.  O que ele não imaginava, era que em pouco tempo, já estaria no pódio. De lá para cá são 11 anos como atleta. Paixão que também virou sua profissão. Essas e outras histórias e conquistas você acompanha a partir de agora. O treinador de corrida conversou com a Runners Brasil e contou sobre a forma divertida de falar sobre corrida nas redes sociais e ainda dá dicas para correr no frio, e como tornar um treino difícil, leve para a mente.

Sabine Weiler: Correr por quê? Provavelmente algumas pessoas te perguntam isso…

Armando Marchezani: Sim, recebo muito essa pergunta. Correr para mim significa estar vivo. Quando penso que estou tendo a oportunidade de viver, logo penso em sair correndo e desfrutar do milagre da vida.

Sabine: De que maneira a corrida entrou na sua vida?

Armando: A Corrida entrou em minha vida quando eu tinha 17 anos e tinha o sonho de me tornar jogador de futebol. Lembro que onde eu treinava, os melhores atletas eram aqueles que corriam mais durante o aquecimento do treino e aqueles que continuavam correndo após o treino. Lembro que comecei a correr com o objetivo de alcançar o condicionamento físico deles. Por cinco vezes na semana, corria em média de 1h30 a 2h todos os dias, de chuteira, na terra, sem muitas instruções. Com o passar do tempo, comecei a calçar um tênis e praticar na rua. E ao decorrer do tempo, percebendo minha evolução física e mental, dei continuidade aos treinos (dessa vez sem a bola) e me inscrevi na minha primeira Corrida de Rua. Sem muito conhecimento, me inscrevi de primeira nos 10km, na tradicional prova Troféu Cidade de São Paulo. O que eu menos esperava, aconteceu: eu venci a prova na minha categoria, recebendo assim, além da segunda medalha, um incentivo a mais que me fez nunca mais largar o esporte.

Sabine: Qual a ligação da corrida com a sua profissão de Educador Físico?

Armando: Comecei a correr antes de estudar Educação Física. Eu sempre dizia a minha mãe que se eu não me tornasse jogador de futebol, seria Profissional de Educação Física. E após um ano correndo e jogando futebol, resolvi largar o esporte com bola e focar apenas em correr e estudar, o que se tornaria minha primeira profissão.

Sabine: Qual a sua rotina de treinos?

Armando: Eu nunca treinei para performance, então, não espere de mim uma resposta com segredos de desempenho, ok leitor? (risos) Minha rotina de treinos, na maior parte dos anos foi com foco em saúde, lazer e condicionamento físico, procurando trazer equilíbrio entre mente e corpo e, entre saúde e trabalho, sem pensar muito em tempos ou recordes pessoais a serem batidos. Foi assim desde o começo até o ano passado, onde tive a grata surpresa de começar a me interessar em performar, e, aos poucos, venho introduzindo isso na minha rotina, na minha mente e nas provas que planejo em fazer. Treinos mais volumosos e mais intensos estão sendo inseridos aos poucos na minha rotina. As semanas de treinos variam de acordo com a prova planejada, porém, o que é presente na maioria das semanas, são treinos de corrida fácil, treinos intervalados, treinos de tiro, musculação e descansos.

Sabine: Treinar para uma maratona exige muita dedicação e algumas pessoas pensam que não terão tempo na rotina! Como pensar em treinar para uma maratona de uma forma mais leve?

Armando: Para pensar em treinar para uma maratona de uma forma leve, deve se deixar bem claro, qual será seu objetivo durante a Maratona. Se seu objetivo é completar a prova com segurança e se divertir durante o percurso, seus treinos também poderão ter este espírito mais descontraído. Se seu real objetivo é bater uma marca ou completar a prova sendo um grande desafio a marca dos 42km, os treinos serão desafiadores também. Para mim o grande segredo é o da “clareza”. Deixar bem claro a si mesmo o que você realmente quer, pode tornar aquele treino que seria incrivelmente difícil e pesado, em um treino leve para a mente e que faz todo sentindo para você. Mas claro que, vale ressaltar que para o físico, treinar para uma maratona nunca será tão fácil, visto que precisamos estar prontos para suportar uma grande distância.

Sabine: Tem alguma prova que você sonha em fazer?

Armando: Tenho três lugares que eu sonho em correr Maratonas: Buenos Aires, Paris e Tokyo. Me sinto ligado a Buenos Aires, pois foi lá onde fiquei noivo da minha companheira Fabiana e tivemos uma experiência, por mais que curta, incrível na cidade. Paris, porque em 2020 eu estava inscrito e, por conta da pandemia, não pude ir à França realizar este sonho. Tenho o sentimento de “ficou faltando” cumprir a Maratona por lá. E Tokyo, do outro lado do globo, me sinto com muita vontade de correr por influência da cultura do país e por tudo aquilo que acompanho sobre a história da prova.

Sabine: Qual prova mais te surpreendeu/te marcou até hoje?

Armando: A prova que mais me surpreendeu até hoje foi a ‘Media Del Mar’, prova em Cartagena, na Colômbia. Foi uma prova espetacular, onde toda a estrutura e as pessoas tinham uma energia única! Nunca, na minha vida, em todas as provas que eu fiz, vi pessoas tão alegres, felizes e dispostas a cumprir seu objetivo de prova de uma forma tão especial. Além disso, o lugar é lindo. A prova passa por todo centro histórico da cidade, além de passar próxima de navios e do exército. Os soldados vieram para as ruas apoiar os corredores assim como todos os moradores da cidade. Recomendo a todos que amam corrida, desfrutar dessa prova.

Sabine: Nas suas redes sociais você dá dicas de treinos e de uma forma muito bem-humorada fala de questões da corrida. O que te incentivou a fazer esses vídeos?

Armando: Alguns estudos dizem que nós aprendemos algo quando ensinado de forma significativa e que ocorra identificação com o assunto. Por muitas vezes, em diversos conteúdos, encontro a informação necessária, porém, me sinto um pouco desanimado com a forma que é transmitida o conteúdo. Prefiro então, utilizar do humor e de situações cotidianas para transmitir a informação e as dicas para os treinos e uma vida de melhor qualidade. Além disso, trazer humor para o treino é sempre positivo, pois, por muitas vezes, muitas pessoas treinam de forma triste e por obrigação.

Sabine: Como você encara treinar no inverno?

Armando: Procuro encarar da forma mais leve e simples possível. Deixo claro em minha mente: a chuva, o calor, a neve, meteoros, imprevistos ou qualquer outra situação não deixará que eu perca a minha vontade de correr.

Sabine: Prefere treinar na esteira ou nem pensa no frio, se agasalha e vai?

Armando: Eu realmente só utilizo a esteira em casos em que vejo que será mais seguro para mim e em ocasiões em que só terei aquela possibilidade de treinar. Por exemplo: chuva intensa, intervalo entre minhas aulas de Personal, incentivo ao aluno que quer treinar junto etc. Prefiro 100% treinar na rua, no parque ou em qualquer outro ambiente aberto.

Sabine: Que dicas você dá para quem não gosta de treinar em esteira, mas no inverno (frio ou chuva) acaba sendo uma boa aliada?

Armando: A minha dica principal para este tipo de situação é: deixe o ambiente, seu corpo, sua mente e todo o resto, o mais gostoso possível. Então se você gosta de ouvir uma música, assistir uma série, correr próximo a alguém, correr em uma academia específica… faça! Nem tudo precisa ser de um jeito que a gente ache difícil. Deixe aquilo “a sua cara” e faça do seu jeito.

Sabine: Já fez alguma prova com temperaturas bem baixas ou até abaixo de zero?

Armando: Ainda não tive a oportunidade de fazer uma prova em baixíssima temperatura, porém, nos três meses que tive a oportunidade de morar no interior da Irlanda, mantive minha rotina de treinos mesmo com o frio intenso. Eram toucas, luvas, blusas e meias para que pudéssemos treinar. Foi uma experiência única e que eu teria novamente.

Sabine: O que não pode faltar num treino/prova no frio?

Armando: O que não pode faltar, acima de tudo, é planejamento. Saber como irá se agasalhar, em que momento poderá deixar uma peça de roupa de lado, se vai para a largada agasalhado ou não, se seu corpo reage bem correndo com muita roupa e até mesmo se irá conseguir se manter em uma temperatura ideal correndo com pouca roupa. Já vi casos de pessoas que passaram muito frio na largada por estarem desagasalhadas e pessoas que ficaram com calor durante toda a prova porque acharam que iam passar frio e depois não quiserem descartar a peça de roupa. Mas cada indivíduo tem suas especificidades. Se estamos falando de um ambiente extremamente gelado, fará todo sentido largar aquecido e talvez descartar durante a prova. Porém, nada é regra. O que pode dar certo para um, pode dar errado para outro. O mais importante é treinar e se planejar diante da situação que virá enfrentar durante a prova.

Sabine: Quais as vantagens de treinar no frio?

Armando: A principal vantagem de treinar no frio é adaptar nosso corpo a um ambiente novo, quero dizer, isso se você vive, assim como eu, em um ambiente que na maioria das vezes está quente. Treinar no frio não irá gastar mais ou menos calorias. A diferença é que, por muitas vezes, as pessoas costumam fazer treinos mais “preguiçosos” quando o clima não está bom para elas, então assim, com certeza pode vir a gastar menos calorias.

Sabine: Que mensagem você deixa aos leitores da Runners Brasil?

Armando: “Correr é para todos. Corra da forma que mais lhe agrada. Deixe a corrida se conectar com o seu coração e com sua mente. Entenda que este esporte não é apenas físico. Se divirta, desfrute do percurso, das passadas, dos desafios e de tudo o que você quiser correndo. A corrida se tornará cada vez melhor se ela estiver sendo praticada do seu jeito. E tenho certeza, que sua vida se tornará cada vez melhor se estiver correndo.”

Por: Sabine Weiler

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Entrevista Doutor Corrida

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“Aproveitar a jornada com qualidade e alegria é primordial”. Doutor Corrida, como o próprio nome nas redes sociais já diz, é médico ultrassonografista, corredor e um viajante incansável. Em seis anos entre trilhas e asfaltos, Adriano Gomes Muniz Pereira, coleciona uma jornada apaixonante e admirável pelo mundo e vive cada corrida com uma intensidade única.  Só em 2023, enfrentou a incrível marca de 29 provas entre maratonas e ultramaratonas, e começa o ano em busca de mais conquistas e novas experiências por paisagens de tirar o fôlego. Adriano também é criador de conteúdo, e leva às redes sociais, cada nova descoberta, seus treinos, dicas para os amantes do esporte e notícias do mundo da corrida. Sua comunidade nas redes sociais já ultrapassa 120 mil pessoas, entre instagram e Youtube. Mas como se recuperar diante de uma vida tão corrida em meio a uma rotina pesada no trabalho? É o que o pernambucano conta à Runners Brasil, em uma entrevista cheia de inspiração e motivação.

Sabine Weiler: Corrida para você, é sinônimo de longas distâncias. Qual foi o momento da sua vida de atleta que decidiu correr maratonas e ultramaratonas?

Doutor Corrida: No início comecei a participar das provas mais curtas como 10km. Sempre associei o prazer de correr em dois aspectos: o “curtir o caminho”, conhecer as paisagens e lugares em que estou correndo e o “superar um desafio”. Com o tempo notei que as longas distâncias me entregavam uma maior variedade de caminhos para curtir, e um desafio mais difícil, consequentemente um sentimento de superação maior. As longas distâncias acabam potencializando os fatores que me dão prazer na corrida.

Sabine: Como você escolhe as suas provas? 

Doutor Corrida: Hoje em dia faço uma mescla de provas que gosto e quero correr, outras que não conheço, mas sou convidado e tenho boas referências dos amigos da corrida, e aquelas em que acho que apresentar a experiência será positivo para meus seguidores. Apesar de ser um corredor que gosta muito de correr em trilhas, acabo correndo muito provas de asfalto também. Costumo diversificar as experiências na corrida.

Sabine: Você viaja o mundo com a corrida! Como planeja cada prova no seu calendário?

Doutor Corrida: Apesar de algumas pessoas acharem que saio empilhando provas sem critérios, geralmente escolho três ou quatro provas alvo no ano e vou adaptando as outras para entrarem como ferramentas na preparação para essas provas. Não corro as provas sempre buscando performance, em 2023 foram 09 maratonas e 16 ultras, então é humanamente impossível performar em todas, cada uma tem o jeito correto de gerenciar segundo meus objetivos principais.

Sabine: Como é a sua rotina quando não está viajando? Como concilia o trabalho com os treinos?

Doutor Corrida: Sou médico e, ao contrário do que alguns pensam, não vivo só de correr, tenho uma rotina bem pesada, e para fazer o volume de treinos necessário, tenho que treinar antes do trabalho e a noite quando chego em casa. Treino dois períodos de segunda a quinta, descanso sexta, e sábados ou domingos tenho longos ou provas.

Sabine: Como você se recupera de uma corrida? Faz algum intervalo mais longo no pós-prova?

Doutor Corrida: Como as corridas são muito próximas uma da outra, faço uma recuperação ativa, onde diminuo o volume, e trabalho com massagens e regenerativos. Acaba não sendo muito complicado, pois tenho um corpo adaptado a esse ritmo e que considero de rápida regeneração. Ser médico ajuda muito por saber conhecer os diversos sinais corporais e, apesar de conhecer as opções de medicamentos, raramente recorro a algum deles.

Sabine: O que considera mais importante para que o corpo se recupere de uma prova de longa distância?

Doutor Corrida: Saber reconhecer os sinais e atuar naquilo que o corpo te apresenta. Reconhecer quando existe uma simples dor pós-atividade ou algo que pode evoluir para uma lesão, saber a hora certa de exigir dele após um estímulo mais intenso. Saber dialogar com ele.

Sabine: Qual foi a prova mais longa que você fez e descreva como foi o processo do pós-prova já pensando no próximo objetivo!

Doutor Corrida: A maior distância foi de 250km, porém foi dividido em quatro dias, o que facilitou o processo de recuperação. O desafio era uma ultra de 55km na semana seguinte que acabei fazendo com cautela e deu tudo certo. Já tive provas de montanha com mais de 30 horas de duração e geralmente uma semana seguinte de recuperação e treinos leves já funcionam para mim.

Sabine: Você suplementa? Que tipos de suplementos usa para ajudar na recuperação muscular? 

Doutor Corrida: Considero que o melhor suplemento é disparadamente uma boa alimentação. Tento focar nisso na etapa pós-prova e realmente acho que faz diferença na recuperação. Algumas pessoas acabam querendo extravasar na alimentação nesse período e isso não é bom.  Suplementos que uso no dia a dia incluem Creatina, beta alanina, glucosamina e condroitina. Mas sou reticente ao indicar o que uso para todos. Acho que cada caso é um caso e o melhor é que o atleta converse com um profissional de nutrição para avaliar bem suas necessidades.

Sabine: Usa algum tipo de tecnologia para se recuperar dos treinos diários ou de uma prova longa para iniciar um novo ciclo de treinamento?

Doutor Corrida: Único aparelho é uma pistola de massagem. Já usei botas de compressão pneumática, mas não uso rotineiramente.

Sabine: É adepto a algum tipo de alimentação que o ajuda nos treinos e na regeneração? 

Doutor Corrida: Já fui o tipo de corredor que não ligava muito para a alimentação. Mas com o tempo realmente percebi que isso é um dos aspectos que mais faz diferença na vida do corredor. Uma alimentação balanceada e bem estruturada realmente funciona muito bem na performance e na regeneração do corredor, especialmente no que se diz a retirar os ultraprocessados e evitar o abuso de carboidratos, gorduras ruins e bebidas alcoólicas.

Sabine: Em algum momento da sua vida de atleta, você teve que parar algum treino ou até mesmo uma prova, e depois percebeu que não estava recuperado totalmente para voltar a correr? Se sim, como foi esse processo?

Doutor Corrida: Geralmente não costumo interromper treinos, apenas se sentir que há algum risco de lesão ou que está muito improdutivo. Prova só abandonei por trauma do joelho que bateu em uma rocha durante a corrida. No momento que algo assim acontece, tem que se avaliar os sinais que o corpo entrega e trabalhar bem na recuperação, ser profissional da saúde é fundamental para mim nesses momentos.

Sabine: Quais são suas metas para 2024 na corrida? Vem alguma prova inusitada, ousada?

Doutor Corrida: Trilheiro que sou, estou trabalhando para chegar a UTMB, que considero o mais alto patamar de minha categoria. Penso que a UTMB está para o trilheiro, como a Maratona de Boston está para o corredor do asfalto. Faço questão de perseguir esse sonho e mostrar a todos que também o tem, que ele é perfeitamente possível para um corredor amador, que tem uma vida normal, trabalha e tem boletos a pagar.

Sabine: O que te motiva a percorrer o mundo com a corrida? Você procura fazer provas que não existem no Brasil? 

Doutor Corrida: Adoro viajar, viver experiências e culturas diferentes, e adoro correr. Por que não unir tudo isso? Geralmente tento correr entre duas e quatro provas internacionais por ano. Sei que é difícil para a maioria das pessoas, mas também sei que se programando e trabalhando nesse sonho, às vezes se consegue viver essa experiência.

Sabine: No seu Instagram você divulga seus treinos, provas e traz conteúdos que incentivam a corrida e curiosidades! Como você formou a sua comunidade que já chega a 100 mil seguidores? 

Doutor Corrida: Acho que o principal é criar um conteúdo não focado só no que eu faço. Correr mais de 20 provas grandes em um ano não é o que o corredor normal vai fazer, certamente é uma realidade de poucos. Se só foco apenas nisso, qual o ganho real para o corredor normal? Na verdade, faço um conteúdo para todos, um corredor de trilha vai encontrar dicas para a trilha, um de asfalto vai encontrar dicas para o asfalto, aquele que precisa de uma palavra de estímulo vai encontrar essa palavra e até quem quer só se divertir e ver um meme de corrida vai achar um conteúdo para si também. Essa diversidade que atrai tantas pessoas para o meu perfil.

Sabine: A sua Bio do Instagram traz a frase “O maior desafio é superar o medo de falhar!” Como lidar e enfrentar isso?

Doutor Corrida: Muitos pensam que as maiores dificuldades são encontradas na prova em si, naquele momento em que podemos falhar ou não. Mas o momento em que superamos o medo de falhar acontece muito antes da prova em si: é no instante que mesmo podendo falhar, tomamos a decisão de lutar arduamente para superar todos os desafios! Essa é a hora chave da vitória – mesmo sabendo que pode dar errado, nos levantamos e partimos para o combate, nos inscrevemos na prova e iniciamos os treinos.

Sabine: Qual recado você deixa aos leitores da Runners Brasil?

Doutor Corrida: Muitos consideram a corrida como um esporte de competição, buscam sempre dar o melhor e conquistar os seus objetivos – e nada mal ter esses pensamentos. Mas meu conselho é: pensem na corrida como uma ferramenta de saúde e felicidade. Aproveitar a jornada com qualidade e alegria é primordial, o restante virá naturalmente.

Por: Sabine Weiler

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Uma Odisséia Brasileira: Pedro Luiz Cianfarani na Barkley Marathon

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Na busca por desafios extremos, poucos eventos se comparam à lendária Barkley Marathon. Este ultramaratonista brasileiro, Pedro Luiz Cianfarani, alcançou um feito notável ao se tornar o segundo brasileiro a se qualificar para essa corrida mítica, depois de seis anos de determinação incansável. Neste Q&A exclusivo, Pedro compartilha sua jornada, revela os desafios enfrentados, e oferece insights valiosos sobre como ele está se preparando mentalmente e fisicamente para enfrentar os terrenos difíceis e condições imprevisíveis da Barkley Marathon. Vamos mergulhar nas profundezas deste desafio extraordinário e conhecer a mentalidade por trás dessa busca épica.

Runners Brasil: Como você se sente sendo o segundo brasileiro a se qualificar para a Barkley Marathon depois de seis anos de tentativas?

Pedro Luiz Cianfarani: Um sonho realizado!!! Quando comentei com um amigo escutei muito que seria quase impossível, mas provei que não era impossível, difícil sim, não impossível. 

RB: Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo desses seis anos para alcançar a qualificação para a Barkley Marathon?

PL: Eu comentei que este desafio começa para conseguir ser chamado, pois como não tem um site ou app para fazer a inscrição tudo fica mais difícil e você precisa descobrir como ser convocado.

RB: Como foi o processo de seleção e qualificação para a Barkley Marathon? Quais critérios você teve que atender para se qualificar?

PL: Esta pergunta fica difícil responder por ética ao desafio, nem o dia da competição posso falar, são coisas que é pedido no único canal de informação da prova no Facebook que também é um grupo restrito. Esta competição é única por isso mesmo, pelo mistério que ela envolve.

RB: A Barkley Marathon é conhecida por seu terreno extremamente desafiador e condições climáticas imprevisíveis. Como você está se preparando fisicamente e mentalmente para enfrentar esses desafios?

PL: Sei que tudo neste desafio é feito para não completarmos e lutaremos o tempo todo contra. Já estou acostumado com desafios extremos onde levamos o corpo ao limite e mesmo assim sei que nada se compara. Tenho uma equipe de profissionais ao meu lado preciso aprimorar minha navegação com mapa e já estou contatando um profissional para me auxiliar. Minha equipe é coordenada pelo meu irmão que é um profissional de educação física com muitos anos de experiência. 

RB: A navegação é fundamental na Barkley, já que não há sinalização clara. Como você está se preparando para a parte de orientação da corrida?

PL: Como disse anteriormente, já contatei um profissional para me auxiliar com navegação por mapa e irei intensificar meus treinos de Trail e força. 

RB: O limite de tempo da Barkley é notoriamente difícil, com apenas 60 horas para completar as cinco voltas. Como você está planejando gerenciar seu tempo e energia ao longo da corrida?

PL: Já estou me programando no tempo de 12 horas por volta.

RB: O criador da Barkley, Gary “Lazarus Lake” Cantrell, é uma figura misteriosa e excêntrica. Você teve a oportunidade de interagir com ele? Se sim, que conselhos ou insights ele compartilhou?

PL: Já troquei muitos e-mails com ele principalmente quando me classifiquei para o mundial de Backyard (Resta 1), prova idealizada também por ele e que infelizmente não fui devido a pandemia. Quanto a conselhos ele fala muito pouco sobre a prova e conseguimos as dicas e conselhos pelos veteranos no Grupo do Google e Facebook.

Fotos: Arquivo Pedro Luiz

RB: Qual é a sua maior motivação para enfrentar a Barkley Marathon, considerada uma das corridas mais difíceis do mundo?

PL: A participação nesta icônica corrida irá coroar minha trajetória no mundo das ultramaratonas, já fiz as mais difíceis ultramaratonas no Brasil e no Mundo sempre sonhei com esta que seria a cereja do bolo, uma cereja um pouco amarga eu sei rsrsrs 

RB: Você tem algum plano de estratégia específico para a Barkley Marathon, ou está aberto a improvisar à medida que a corrida se desenrola?

PL: Irei com uma estratégia, mas tudo poderá mudar conforme a corrida vai acontecendo. Um veterano de 6 participação na Barkley estará comigo para me ajudar no planejamento.

RB: Como você espera que sua experiência na Barkley Marathon influencie seu futuro como corredor de ultramaratona e seus objetivos no esporte?

Quero abrir as portas da Barkley para os Ultramaratonistas do Brasil e América Latina, sei que temos muitos ultramaratonistas de nível muito alto que se sairia muito bem.

Pedro Luiz Cianfarani
Nascido em 21 de abril de 1968 em São Caetano do Sul mudando para São Bernardo do Campo após o casamento em setembro de 1989.

Início nas corridas de rua em dezembro de 1998 na corrida de Natal no Ibirapuera e no mundo da Ultramaratona em 2006 em uma corrida de 6 horas organizada pelo Carlos Dias. Deste dia até hoje foram inúmeras provas de longa distância, 100 km, 50 km, 50 milhas, 12, 24 e 48 horas e provas como Brazil 135, Uai, 300 o desafio, Badwater 135, LLAJTAY BACKYARD ULTRA e outras.

Principais provas

Brazil 135 (217 a 260 Km pelo Caminho da Fé)- 12 participações e conclusões com melhor tempo de 35 horas / 300 o Desafio/RMR (300km pela Estrada Real) – 3 participações e conclusão – 3º , 4º e 5ª colocação / Badwater 135 (217km no Vale da morte) – concluída em 2018 / LLAJTAY Backyard Bolívia 2019 e 2023 (resta 1) – 2º colocado em 2019 – Com este resultado conseguido na Backyard Bolívia me garantiu uma vaga no mundial no Tennessee (EUA) que infelizmente não participei devido as restrições impostas pelos EUA devido a pandemia em fechar as fronteiras / 48 horas Internacional da Mantiqueira – 316 km – 2º colocado e 19º ranking mundial em 2018 /24 horas – foram muitas pelo Brasil (SP, RJ e Paraná)

Por: Pablo Mateus

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Q&A Runners Brasil – Marcelo Avelar

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“Não existe treino ruim, existe dia ruim por não ter treinado”. Marcelo Avelar, treinador e único atleta do mundo tricampeão da Meia Maratona da Disney, conversou com a Runners Brasil e traz dicas de como saber lidar com o processo para conquistar a distância desejada nas pistas. O que não pode faltar nos treinamentos, como evitar as lesões e muito mais para evoluir no esporte. Avelar, foi o melhor brasileiro na Maratona de Tokyo de 2023, treina centenas de pessoas pelo Brasil, e como todo corredor tem sonho de atleta.

Sabine Weiler: Qual a dica inicial que todo corredor deve saber para evoluir na corrida?

Marcelo Avelar: Todo corredor para evoluir precisa ter paciência e saber lidar com o processo. O dia da prova é “só” ir buscar a medalha. A conquista dela é em cada treino, cada abrir mão, cada gota de suor. O processo depende de muita paciência e saber que a construção vai ser de muita dedicação.

Sabine: Quais são as principais diferenças no treinamento entre correr distâncias curtas, e se preparar para uma maratona?

Avelar: As distâncias curtas dependem mais de intensidade do que volume. Quando falamos de 5km ou 10km por exemplo, falamos de intensidade, são provas mais curtas e que os treinos intervalados são mais valorizados que os treinos volumosos. A maratona depende mais de volume, de treinos mais longos e mais lentos se comparados para provas curtas.

Sabine: Alguns corredores podem até não gostar de fazer fortalecimento, mas é fundamental na corrida, para maximizar o desempenho e evitar lesões, não é mesmo?

Avelar: Os treinos de força, sejam eles de musculação ou funcional devem sim fazer parte da rotina de todo corredor. Claro que não são imprescindíveis, mas é comprovado que corredores que inserem esse tipo de treino no dia a dia sofrem menos lesões e tem melhoria no desempenho nos treinos e provas.

Sabine: Como aumentar gradualmente a quilometragem sem correr o risco de lesões durante o treinamento?

Avelar: O aumento de volume se dá gradualmente e geralmente a cada 15 dias aumentam-se 2km a cada treino longo.

Sabine: Um corredor iniciante quando corre 5km, logo pensa nos 10km, e depois nos 15km. Existe um período para evoluir na corrida? Qual a dica para segurar a empolgação de um corredor e respeitar o processo para evoluir?

Avelar: Sugere-se que após 10 provas em média de 10km aumente o volume aos poucos até uma prova de 21km. A partir daí, o volume vai aumentando para talvez, uma maratona. Eu sugiro que após a 5ª ou 6ª meia maratona, acrescente volume aos poucos para uma estreia segura na maratona.

Sabine:  Que tipo de treino é fundamental para o processo de evolução na corrida?

Avelar: Todos os treinos são importantes: ritmo, fartlek, intervalados, regenerativo e longos. Todos na medida correta se completam. Depende do objetivo para decidir quais praticar mais. Por exemplo, corredores se preparando para a maratona, damos ênfase em treinos mais longos, corredores de curta distância usamos mais intervalados e treino de ritmo. No geral os treinos se completam e o que decide o “uso” mais de um ou de outro é a demanda da distância escolhida. Ah, não podemos esquecer que descansar também é treino e são nos dias OFF que acontecem os ganhos.

Sabine: Quais são os sinais de alerta de ‘overtraining’ e como evitar o excesso de treinamento ao aumentar a distância percorrida?

Avelar: Sinais como insônia, falta de libido, não progredir, mau humor, fadiga extrema são sinais de que você está treinando muito e entrando em ‘overtrainnig’

Sabine: Quais são os principais obstáculos que os corredores enfrentam ao buscar a evolução e como superá-los?

Avelar: Se lesionar é o pior obstáculo e geralmente acontece pelo aumento de volume inadequado, falta de fortalecimento ou erros mecânicos na corrida. Uma técnica com movimentos básicos errados (aterrissagem, oscilação vertical excessiva etc.) podem acarretar lesões e afastar o corredor das atividades e isso desmotiva e traz muitas vezes o abandono da modalidade.

Sabine: Como um atleta pode ‘medir’ a evolução na corrida. Apenas com a melhora dos tempos?

Avelar: Melhorar os tempos nem sempre é sinal de melhoria. É necessário observar como tem chegado ao final dos treinos e das provas. Melhorar o treino indica melhoria sim, mas o corredor está chegando ao final dos treinos sem dores, sem aquela sensação de “quase morte”? Menor número de lesões e vontade de ir para mais provas? Isso tudo demonstra evolução.

Sabine: Além de um treinador, que outros profissionais são essenciais para o corredor evoluir na corrida?

Avelar: O treinador é quem prescreve os treinos e viabiliza o caminho para conquistar os objetivos, mas ter uma equipe multidisciplinar que conta com um nutricionista e fisioterapeuta são essenciais. De nada adianta ter um treino bem prescrito e não ter uma alimentação de acordo com a demanda de treino ou um fisioterapeuta para terapias manuais preventivas.

Sabine: Como que os alimentos e suplementos podem ajudar na corrida e em que momento que o atleta deve começar a fazer uso?

Avelar: Nem tudo que precisamos, conseguimos tirar dos alimentos, pois a demanda de nutrientes de quem corre é maior do que pessoas que não praticam a corrida. Por isso precisamos ter auxílio nutricional de alguns suplementos, como por exemplo gel de carboidrato, como intra prova.

Sabine: Você, como atleta, o que você mais aprendeu com a corrida?

Avelar: Aprendi que apesar de correr sozinho, a corrida se trata do esporte mais coletivo que existe. Sempre estaremos e precisamos de outros corredores. Além disso, aprendemos a conhecer limites do corpo e a respeitar todos, sem julgar se são lentos, rápidos, correm 5km ou maratonas

Sabine: Você é o único atleta do mundo a ser tricampeão da Meia da Disney. O que foi fundamental para manter a performance e defender o título a cada participação?

Avelar: A paixão pela corrida me fez manter a rotina de treinos. Conquistar a Disney foi consequência de um amor pela corrida e saber que a disciplina faz parte de uma sequência para a vida inteira, não somente um projeto e momento.

Sabine: Qual o sonho de atleta de Marcelo Avelar?

Avelar: Conseguir deixar um legado sobre a ferramenta que a corrida é. Uma ferramenta de transformação social e na vida das pessoas. Podemos através da corrida inserir pessoas no esporte, mostrando que todos somos capazes e que necessariamente não precisamos ser campeões, o que importa é sermos indivíduos transformadores do mundo, alegres e que podemos compartilhar isso pelo mundo.

Sabine: Você foi o melhor brasileiro na Maratona de Tokyo de 2023. O que representa essa conquista para você?

Avelar: Ser o melhor brasileiro em Tokyo com 2h30m32s na maratona foi uma conquista recheada de coisas boas. Tive a oportunidade de conhecer outro continente, uma cultura totalmente diferente e uma vivência que reforçou ainda mais meus pensamentos sobre respeito pelo próximo. Uma das experiências mais lindas da minha vida.

Sabine: Para encerrar, qual a mensagem você quer deixar aos leitores da Runners Brasil?

Avelar: Treinem! Não vão existir somente dias bons. Treine nos dias bons e treine mais ainda nos dias ruins. Na verdade, não existe treino ruim, existe dia ruim por não ter treinado.

Por: Sabine Weiler

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