Corrida e Dermatologia

Melasma na mulher que corre: o que a ciência revela

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Quem corre ao ar livre conhece bem o prazer de sentir o vento no rosto e o sol aquecendo a pele. Mas para muitas corredoras, essa combinação também traz um desafio persistente: o melasma.

O melasma não é só uma “mancha”, é uma condição inflamatória crônica, que acontece em uma pele naturalmente mais sensível e reativa, influenciada por hormônios, genética e exposição à luz.

Hoje sabemos que a mulher que corre vive exposta a estímulos que ativam o melanócito (célula produtora de melanina) o tempo todo,  mesmo quando não há sol direto.

As pesquisas confirmam que a pele da mulher com melasma funciona de forma biologicamente diferente, e a corrida ao ar livre pode acionar mecanismos que pioram o quadro.

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A ciência do melasma: muito além do sol

Com base no artigo Pathogenesis of Melasma Explained (IJD, 2025), o melasma hoje é entendido como uma desordem complexa que envolve:

✔️ Inflamação persistente

O melasma é alimentado por mediadores inflamatórios (ex.: IL-17, TNF-α). A pele inflamada responde com mais pigmentação.

✔️ Disfunção da barreira cutânea

Mulheres com melasma têm a barreira da pele mais permeável, perdendo mais água e ficando mais reativas.

✔️ Ativação exagerada dos melanócitos

Os melanócitos não são preguiçosos”, são hiperativos. Eles produzem melanina com estímulos mínimos: calor, luz visível ou ultravioleta.

✔️ Fibroblastos senescentes e elastose solar

O artigo descreve que peles com melasma têm:

  • aumento de fibroblastos envelhecidos,
  • dano ao colágeno,
  • maior quantidade de elastose solar.

Isso faz com que o pigmento “grude” mais na pele.

✔️ Aumento de mastócitos

Mastócitos liberam histamina → mais inflamação → mais melanina. O melasma é, em parte, uma “dermatite crônica pigmentante.”

✔️ Vascularização aumentada

A pele da região afetada tem mais vasos sanguíneos, o que estimula melanócitos e dificulta clareamento.

E o que tudo isso tem a ver com a corredora?

Muito.

A mulher que corre ao ar livre está exposta a praticamente todos os gatilhos científicos do melasma.

1. Luz visível (inclusive azul)

Segundo o artigo, a luz visível penetra profundamente e piora o melasma mesmo sem UV.
A corredora recebe luz visível:

  • pela manhã,
  • ao final da tarde,
  • em dias nublados.

2. Suor e inflamação

O suor altera o pH da pele e fragiliza a barreira.

Pele inflamada + barreira frustante = mais risco de pigmentação.

3. Atrito

O atrito promove inflamação e libera substâncias que ativam melanócitos (substância P, histamina).

4. Fatores hormonais

hormônios sexuais + inflamação + luz = o tripé do melasma feminino.

Por que o melasma é o teimoso?

❗ O melanócito do melasma é hiper-reativo

Ele precisa de menos estímulo para produzir mais melanina.

❗ O ambiente dérmico está alterado

Inflamação, vasodilatação, fibroblastos senescentes, tudo isso reforça o ciclo da mancha.

❗ O dano à barreira impede recuperação

A pele perde água e fica mais vulnerável a estímulos externos.

❗ O processo é crônico

Ou seja: é controlável, mas não “curável”.

Como controlar o melasma (de verdade) no dia a dia da corredora

1. Fotoproteção inteligente

* Protetor com cor (protege contra luz visível)

* FPS 50+

* Resistente ao suor

* Reaplicação a cada 2–3 horas

* Boné de aba larga + tecido respirável

 *Os filtros minerais e protetores com óxido de ferro são os mais eficazes.*

2. Escolha bem o horário do treino

3. Cuidados pós-treino para reduzir inflamação

  • Niacinamida
  • Ácido azelaico
  • Tiamidol
  • Antioxidantes (vitamina C estabilizada)

4. Reconstrução da barreira cutânea

  • Ceramidas
  • Esqualano
  • Pantenol

Esses ativos restauram a barreira e reduzem o sinal inflamatório que piora o melasma.

5.Tratamentos dermatológicos com base em evidência cientifica

* Hidroquinona (uso cíclico)

* Retinoides

* Ácido tranexâmico (tópico e oral)

  • Tiamidol
  • Microaglhamento leve com cautela

* Peelings não inflamatórios

* laser

* Luz intensa pulsada em casos com componente vascular

Hoje tratamos o melasma olhando para **melanina + inflamação + vasos + barreira cutânea**.

Conclusão

O melasma não tem cura, mas tem controle. O sucesso do tratamento depende da regularidade: proteger todos os dias, tratar com paciência e evitar excessos. Com estratégias inteligentes, proteção consistente e cuidado diário, é totalmente possível controlar a condição sem abrir mão da corrida.

O mais importante é lembrar:

Você não tem melasma por descuido, você tem melasma por biologia. E a ciência é a sua aliada.

Por: Dra Sabrina Cabral Bezerra – Dermtologista CRM 153146 RQE 51002

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