Desculpem, mas vocês não são bem-vindos e prejudicam todo o evento. Sim, eu sei, já disse isso antes – em 2023, para ser exato, quando escrevi sobre o tema pela 1ª vez. Pode parecer taxativo, redundante até, mas infelizmente é necessário repetir: o alerta precisa ser dado, e dado com ênfase, porque o problema persiste. A corrida, esse esporte que une determinação, suor e comunidade, não merece ser desrespeitado por alguns. Vamos aprofundar isso, atualizando o debate com o que vimos em edições recentes, especialmente na centenária Corrida Internacional de São Silvestre, nossa prova mais icônica no Brasil, com seus 15 km de tradição e emoção.
Para muitos corredores, uma das maiores recompensas ao cruzar a linha de chegada – especialmente em provas de longa distância, como meias e maratonas – é receber aquela medalha simbólica. Um pedaço de metal que, monetariamente, vale pouco, mas carrega um valor sentimental imensurável. É o troféu de meses de dedicação, de treinos árduos, de superação pessoal. Nos EUA, por exemplo, é comum exibi-la orgulhosamente pelo resto do dia, ganhando descontos em lojas e restaurantes, além de elogios sinceros de desconhecidos. Mas e quando essa conquista é maculada por quem ignora as regras?
De uns anos para cá, o fenômeno dos “pipocas” ou “piratas” – corredores não inscritos que se infiltram nas provas – tem se tornado uma praga. Já vimos isso em eventos renomados no Brasil e no mundo, incluindo a Maratona de Boston em 2023, onde quem chegou após 5h15min ficou sem medalha, graças à escassez causada por infiltrados. Eu mesmo fiquei sem medalha em uma maratona em POA/RS em 2014 devido a entrada de pipocas na prova que se adonaram das nossas medalhas, menos mal que a organização enviou via correio para minha casa, dias depois.
Enfim, os irregulares, sempre encontram maneiras criativas e não convencionais: entrando no percurso pelo km 1, copiando números de peito alheios ou até imprimindo falsificações em casa, após bisbilhotar kits postados nas redes sociais por corredores legítimos. É uma invasão que vai além do desrespeito; é um risco calculado que afeta todos.
Mas e se você perdeu o prazo de inscrição ou não tem o índice qualificatório? A frustração é compreensível, especialmente em provas de alta demanda como a São Silvestre, que em edições recentes atraiu estimados 150 mil interessados para apenas 50 mil vagas – metade da demanda da Maratona de Tóquio, que vê mais de 300 mil candidaturas para o mesmo número de spots. Não vamos entrar no mérito do grande desafio da organização em promover este evento único (100ª), da infelicidade em falhar nos controles do sistema de inscrições. Sabemos que há outras alternativas justas e comprovadas que poderiam ter sido ou podem ser adotadas, como o modelo de pré-inscrição com sorteio. Imagine: todo interessado faz uma inscrição preliminar (talvez pagando um valor simbólico que beneficia uma instituição de caridade ou a própria fundação), e então aguarda o sorteio oficial das vagas oferecidas. Isso já acontece em edições da Uphill Marathon e nas Majors Marathon, promovendo igualdade e evitando o caos das inscrições corridas.
Outra via comum e legítima é adquirir vagas por meio de agências credenciadas pela organização. Provas grandes reservam pacotes para essas agências, grupos ou assessorias esportivas, facilitando o acesso para quem ficou de fora do sorteio. Eu mesmo, em minha trajetória como corredor maratonista, comprei a maioria das minhas inscrições dessa forma – fui sorteado apenas para a Maratona de Chicago. No fim, tudo comum e normal, desde que dentro das regras.
Aqui o X da questão: todo ano, surgem golpistas oferecendo possíveis “inscrições” ou “repassando” vagas depois que a prova encerrou as inscrições oficiais. Outros dizem ter acesso a um suposto “segundo lote” – isso não existe, é golpe puro. Eles criam perfis falsos nas redes sociais, investem em links patrocinados e se infiltram em grupos de mensagens (como WhatsApp ou Telegram) oferecendo vagas milagrosas. Não caia nessa! Eles te mostram comprovantes de inscrição falsos (adulterados digitalmente), você paga via Pix ou transferência, e eles somem com o dinheiro. Isso é crime, estelionato, e acontece a cada edição de grandes provas ou eventos. Denuncie perfis suspeitos às plataformas e à polícia se necessário; proteja sua carteira e sua paz de espírito.
O que não é normal é optar pela pirataria. Nada justifica correr na pipoca. A rua, embora pública, é alugada para o evento (já falamos isso em nosso podcast) – e o custo é alto, como qualquer consulta na prefeitura pode revelar. Há um cálculo preciso de capacidade: quantos corredores o percurso suporta com segurança, quantos postos de hidratação, quantas ambulâncias e equipes médicas são necessárias. Tudo baseado no número de inscritos oficiais. Um infiltrado não só utiliza os recursos – como água, que pode faltar para quem pagou e se preparou –, mas também compromete o fluxo da prova. Imagine o ritmo de um atleta recreacional determinado sendo interrompido por aglomerações desnecessárias, ou pior: quedas envolvendo idosos, distraídos com celulares ou novatos vivendo sua primeira experiência. Não estraguemos o sonho de alguém por capricho pessoal.
E se o pior acontecer? Um colapso no percurso por parte de um pipoca pode sobrecarregar o sistema médico, projetado para os inscritos. Ambulâncias e atendimentos não são infinitos; eles são dimensionados para um público controlado. No caso da São Silvestre, a Fundação Casper Líbero, detentora da marca, vai além: legalmente, impede o uso indevido do nome para promover provas paralelas, produtos ou serviços. Já processou corredores desavisados que citaram a marca para ganhos pessoais ou protestos. Qualquer insatisfação deve ser canalizada para a gestora ou órgãos competentes, não para redes sociais em busca de engajamento vazio. Ninguém aguenta mais gente chata virtualmente; se necessário for, reclame nos canais certos. Quer treinar no percurso, no dia e na hora da prova, rever amigos, sentir a vibe?
Definitivamente não faça isso!
Escolha outras avenidas, parques ou praças. Vá ao local só após seu treino, para apoiar atrás das grades de proteção. Nada de entrar no percurso para “correr junto” ou pedalar – é proibido e prejudicial. Se um dia você correu na pirataria, pare agora. Algumas organizadoras, exaustas de desconfortos, já recorreram à justiça contra insistentes, e o resultado não é legal e gera muito desgaste a todos.
Seja um corredor legal: quando inscrito, corra com tudo; quando não, apoie com entusiasmo. Leve bandeiras, apitos, faixas, ofereça bebidas, comida e música da lateral. Incentive, vibre, faça a festa que impulsiona o esporte. Assim, todos ganham – e o mercado running continua sendo essa paixão coletiva, sem desconfortos ou deselegância.
Dica final: São Silvestre é prova para correr leve, no ritmo que o percurso oferece devido a elevada concentração de pessoas, de idosos, novatos e pessoas curtindo o percurso, nada de falar em pace, ritmo, RP e tentar acelerar o ritmo, tentar atropelar as pessoas no percurso, acotovelar idosos e pessoas com necessidades especiais para tentar ser veloz. Quer bater RP, vá pra outra prova não na São Silvestre, ali o contexto é outro, é prova run for fun e não uma prova de velocidade. Você é atleta recreacional, em uma prova recreativa, comporte-se como tal e não como um atleta de elite.
Vamos nessa, de forma responsável, respeitosa, ética e verdadeira!
Quem ficou de fora, vá torcer e vibrar, ou assista na TV!
Para quem conseguiu se inscrever, nos vemos na 100ª São Silvestre, pois eu estou inscrito e faremos a maior festa correndo devagar e curtindo toda vibe que a prova oferece!
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