Vivemos cercados por prazos, notificações, trânsito, incertezas. Nem sempre é possível evitar o estresse, mas é possível aprender a administrá-lo. O foco deve estar menos em eliminar o estresse e mais em desenvolver estratégias de enfrentamento que reduzam o impacto sobre o corpo e a mente. E esse cuidado vai além da saúde psicológica: é também uma forma de proteger o coração.
O coração não sofre apenas com colesterol alto ou sedentarismo. Sofre também com ruminações constantes, pensamentos catastróficos, preocupações intermináveis e outros padrões que funcionam como mantenedores do estresse, mantendo a resposta fisiológica ativada por mais tempo. Isso significa que não apenas nos sentimos sobrecarregados, mas também expomos o corpo a um desgaste contínuo, que se torna fator de risco para a saúde cardiovascular.
Por outro lado, quando aplicamos técnicas como reestruturação cognitiva, atenção plena ou habilidades de tolerância ao mal-estar, aprendemos a criar uma espécie de amortecedor interno, que protege o organismo do peso emocional e diminui a carga do estresse sobre o corpo. Assim, manejar emoções e pensamentos não é apenas uma questão de saúde mental, mas também de longevidade.
Algumas estratégias ilustram bem esse processo.
Reestruturação Cognitiva: identificar pensamentos automáticos negativos (“não vou dar conta”, “vai dar tudo errado”) e substituí-los por alternativas mais realistas, equilibradas e funcionais (“se eu começar com um passo pequeno, já avanço”, “posso encontrar desafios, mas também aprendo com eles”). A nova perspectiva não precisa ser exageradamente positiva, mas sim construtiva e baseada na realidade. Esse exercício ajuda a compreender como os pensamentos influenciam emoções e comportamentos, permitindo identificar padrões disfuncionais e aplicar enfrentamentos mais eficazes.
Mindfulness em atividades simples: consiste em focar a atenção no momento presente, observando sensações e pensamentos sem julgamento. Caminhar prestando atenção aos passos e ao movimento do corpo, comer lentamente percebendo sabores, texturas e cheiros, ou escrever em um diário com foco no presente são exemplos de práticas possíveis. É natural que a mente divague; o importante é trazer o foco de volta, sem crítica, ao que está sendo feito.
Resolução de Problemas: a ideia é sair da ruminação improdutiva e transformar preocupações em ações. O processo envolve definir claramente o problema (em vez de “minha vida está uma bagunça”, delimitar: “estou com dificuldade de encaixar os treinos na agenda”), gerar alternativas (como treinar em horários diferentes, reduzir a duração mas aumentar a frequência, ou combinar a corrida com outro hábito já existente), escolher a melhor estratégia avaliando prós e contras, e executar, revisando o que funcionou. Esse método reduz a carga do estresse porque devolve a sensação de controle.
Tolerância ao Mal-Estar: trata-se de aprender a atravessar momentos de desconforto sem piorar a situação. Envolve usar estratégias saudáveis para suportar picos de estresse sem se deixar dominar, como ouvir música, se conectar com alguém de confiança, mudar o ambiente ou praticar uma corrida. É como ter um kit de emergência para o estresse. Essas ações não eliminam o problema, mas criam espaço psicológico para lidar com ele depois de forma mais lúcida. Inclusive, a corrida é um bom laboratório para essa habilidade: em vez de desistir no primeiro sinal de fadiga, o corredor aprende a permanecer, respirar e seguir em frente. O desconforto não é necessariamente sinônimo de perigo.
O corpo também pode ser um grande aliado. Técnicas de respiração ajudam tanto a melhorar o fôlego durante a corrida quanto a reduzir os efeitos do estresse no dia a dia. Exercícios simples, como a respiração diafragmática (inspirar profundamente pelo nariz, expandindo o abdômen e expirar lentamente pela boca) reduzem a ativação fisiológica ligada à ansiedade. A técnica de inspirar em quatro segundos e expirar em seis, prolonga a ativação do sistema parassimpático, responsável pela sensação de calma. Ambas podem ser praticadas antes de um treino ou em situações de tensão cotidiana.
A corrida, por sua vez, se mostra uma poderosa estratégia de gestão do estresse: libera tensões físicas acumuladas, regula a respiração, amplia a sensação de autocontrole e oferece um espaço de pausa mental. Mais do que exercício físico, é uma oportunidade de organizar pensamentos e experimentar autocontrole. Muitos corredores descrevem essa prática como um momento de pausa em meio ao caos, em que corpo e mente se alinham e o coração encontra equilíbrio. Quando associamos corrida, técnicas respiratórias e estratégias psicológicas, formamos um repertório consistente para enfrentar as pressões da vida de maneira mais saudável. Sem dispensar, é claro, acompanhamento psicológico e psiquiátrico em casos mais complexos.
Gerir o estresse não significa viver sem problemas, mas aprender a carregar a vida com menos peso sobre a mente e sobre o coração. Ao unir técnicas da psicologia, respiração consciente e corrida, criamos recursos que não apenas protegem contra doenças cardiovasculares, mas também ampliam a qualidade de vida. Cuidar do coração, afinal, é também cuidar da forma como respiramos, pensamos e nos movemos no mundo.
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