“A ciência é mais do que um corpo de conhecimentos; é uma maneira de pensar.” Carl Sagan
A evolução das concepções de treino, saúde e de vida ao longo da história tem sido profundamente influenciada por mudanças de paradigma na ciência. Desde o entendimento cartesiano, introduzido pelo filósofo e matemático René Descartes no século XVII, até o pensamento sistêmico atual, essas transformações refletem como a humanidade enxerga o mundo e a si mesma.
O que é entendimento cartesiano?
René Descartes, com seu famoso princípio “Cogito, ergo sum” (“Penso, logo existo”), estabeleceu uma visão dualista do mundo, separando mente e corpo. O entendimento cartesiano promoveu uma abordagem analítica e mecanicista da ciência, onde o corpo humano era visto como uma máquina composta por partes independentes. No contexto do treino e da saúde, essa visão fragmentada levou à especialização extrema, tratando sintomas e condições específicas em vez de considerar o organismo como um todo integrado.
Contrapondo-se à visão cartesiana, o pensamento sistêmico surge como uma abordagem holística que reconhece a interconexão e a interdependência de todos os componentes de um sistema. No contexto da saúde e do treino, isso significa considerar o corpo humano como um todo, em que o bem-estar físico, mental e emocional estão intrinsecamente ligados. Essa perspectiva amplia mais a visão e enfatiza a prevenção e a promoção da saúde de maneira integrada, abordando inúmeros fatores como nutrição, sono, estresse e exercício físico de forma conjunta. Esse é o X da Questão!
A mudança do paradigma da ciência normal para a pós-normal
Foi Thomas Kuhn, em seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, introduziu o conceito de mudança de paradigma, onde a ciência normal é caracterizada por períodos de estabilidade e consenso, interrompidos por crises que levam a revoluções científicas e ao estabelecimento de novos paradigmas. O pensamento sistêmico pode ser visto como uma dessas revoluções, substituindo a visão fragmentada cartesiana por uma abordagem mais integrada e complexa, justamente para poder analisar com muito mais profundidade e atender as demandas humanas.
A ciência pós-normal, por sua vez, reflete a realidade contemporânea, onde as questões científicas são caracterizadas e entendidas por incertezas, valores e urgências. Na saúde e no treino, isso implica em uma abordagem que reconhece a enorme diversidade dos indivíduos e as complexidades de seus contextos diários, promovendo práticas personalizadas e totalmente adaptativas.
Toda a importância das evoluções científicas e do contexto
Essas evoluções científicas são fundamentais para a compreensão do desenvolvimento humano e das práticas de saúde e treino. A transição do entendimento cartesiano para o pensamento sistêmico representa uma mudança significativa na maneira como abordamos a saúde, reconhecendo a importância de tratar o ser humano em sua totalidade e considerando os múltiplos fatores que influenciam seu bem-estar, seus anseios, medos, desejos e perspectivas (já falamos muito sobre isso em outras edições lembram?).
Isso é natural, cito alguns exemplos históricos de mudanças de paradigma: Ao longo da história, várias mudanças de paradigma transformaram a ciência e a sociedade. A revolução copernicana, que deslocou o entendimento geocêntrico do universo, e a teoria da evolução de Darwin, que revolucionou a biologia, são exemplos marcantes. No campo da saúde, a descoberta dos germes por Pasteur e a introdução dos antibióticos representaram revoluções que mudaram radicalmente a prática médica.
O movimento do entendimento cartesiano para o pensamento sistêmico nas novas concepções de treino, saúde e até de vida, ilustra como a ciência evolui e se adapta às necessidades e desafios contemporâneos. Ao reconhecer o valor das abordagens integradas e personalizadas, estamos mais bem equipados (temos mais ferramentas) para promover o bem-estar e a saúde e a performance de maneira holística e sustentável.
Reforço e enfatizo mais uma vez: Treinar pessoas não é treinar máquinas! Treinar pessoas e ou mesmo estimular pessoas a um estilo de vida ativo (presencial ou nas redes sociais), exige uma certa profundidade e um elevado nível de entendimento que passa por estudos, por observações e leituras, além da experiência. A pergunta que sempre faço as pessoas é: “O que você tem debruçado de tempo em leituras e conteúdos assertivos que possam aprofundar o seu conhecimento em cima dos seus desejos e objetivos? O que tem consumido de conteúdo relevante para aperfeiçoar suas técnicas, suas softs skills (habilidades finas) para poder transitar muito bem em seus caminhos e no entendimento humano?
Afinal somos seres biológicos, sujeitos a todo e qualquer tipo de modificação e alteração, devido ao ambiente vivenciado e devido aos fatores genéticos pré-estabelecidos na formação. Cada ser é único neste ponto de vista, esta evolução do modo de ver e se comunicar com pessoas que vivenciam o treinamento físico é fundamental.
Além do mais…Essa evolução contínua reflete o dinamismo da ciência e a capacidade humana de inovar e se adaptar, moldando um futuro onde a saúde e o bem-estar são vistos como um conjunto integrado e interdependente de fatores.
O que você achou desta profunda reflexão? Bons treinos!
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