Medicina e a Corrida

Qual tênis usar para correr?

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Dra Ana Paula Simões explica que para evitar lesões, a escolha do calçado não é fator único e fundamental; é preciso seguir o caminho do fortalecimento, do treinamento e da correção biomecânica

Vou correr: qual tênis usar? Sempre me perguntam. Porém, antes que você ache que estamos sendo patrocinados, já vamos responder: o melhor tênis é aquele que te deixa mais confortável!

Como assim? Vamos aos fatos, mas acima de tudo comprovando na literatura científica, onde fomos buscar a resposta: o que vale é seu “filtro de conforto”. Os tênis de corrida vêm passando por drásticas mudanças, ano após ano, e várias marcas tentam chamar sua atenção e investem realmente em muita tecnologia, isso é indiscutível. Além da beleza, né?E com essas mudanças, veio a pergunta que não quer calar: tênis pode prevenir lesão? O segredo não está na resposta, porém, na pergunta. E a pergunta certa seria: será que o tênis pode intervir no aparecimento ou tratamento de lesões?

Prevenir tornou-se um termo ultrapassado nesse quesito, perigoso de se dizer. Não tem como prevermos os fatores externos que poderão ocasionar lesões, como um buraco na pista de corrida, um carrinho violento no futebol ou até mesmo torcer o pé num treino, como num caso que atendi essa semana, da triatleta Xan Figueiredo que se lesionou numa trilha.

Para dizermos que vamos prevenir lesões, temos e podemos usar nosso corpo, essa grande máquina biomecânica para absorver impactos através dos nossos músculos, tendões e ligamentos que, fortes, proporcionam o melhor desempenho possível tanto para nossas atividades diárias quanto esportivas.

Sempre se disse muito sobre usar tênis com certo amortecedor, ou tênis que “corrigisse” a pisada para assim prevenir futuras lesões. Hoje temos também os tênis com placa para performar. Mas os últimos estudos têm jogado tudo isso por terra mostrando que essas variáveis, tanto a relação entre as características de impacto quanto a pronação do tornozelo, não têm ligação direta com o risco de desenvolver uma lesão na corrida.

Em contrapartida, chegaram outros dados, mostrando que surgiram dois novos paradigmas sugeridos para elucidar a associação entre calçados e lesões. Esses, por sua vez, são chamados de “caminho de movimento preferido” e “o filtro de conforto”. E sem falar na questão de peso!

Como isso funciona? Os pesquisadores sugerem que um corredor seleciona na loja intuitivamente um produto confortável usando seu próprio filtro de conforto, com a marca que mais você associa a confiança e durabilidade. Isso permite que ele permaneça no caminho do seu movimento preferido e o atleta se sinta seguro com relação a procedência do produto; ou seja, você deve experimentar o tênis e analisar o conforto ao andar e ao correr; e essa análise é que reduz automaticamente o risco de lesões. Podemos denominar esse processo como nosso próprio feedback biodinâmico.

Sabemos que o conforto é difícil de definir e quantificar. Porém, nosso corpo fala. Até mesmo em outras pesquisas, não relacionadas aos calçados, um grande preditor de lesão, seria a nossa força de aterrissagem ao solo, colocando em jogo mais uma vez essa nossa autoanálise e mostrando que o nosso corpo responde ao que é oferecido a ele. Isso faz com que tomemos decisões o mais inteligente possível para, assim, evitar lesões e ter um ótimo desempenho.

E para isso, faz-se necessário um caminho mais longo, que a maioria das pessoas evita percorrer: o do fortalecimento, do treinamento, o do peso ideal e da correção biomecânica. Não o mais curto, de achar que o tênis vai fazer tudo isso por você. Escolha o seu!

Bons treinos, valentes!!

Ana Paula Simões, médica do esporte, CRM 108667/SP; RQE: 67412 e 28753

Referencia: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26221015/

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