Q&A Runners Brasil
Q&A Runners Brasil – Djalma Moura
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“É preciso acessar a força interna que existe em cada um de nós”. Palavras de quem já se colocou em situações extremas, se desafiou em lugares inóspitos e inimagináveis (para muitos) de que se é possível fazer uma das coisas que mais ama na vida: correr! Djalma Moura, de 66 anos, sabe explicar muito bem o que é viver e colecionar momentos e experiências. O pernambucano, morador de Florianópolis há mais de 40 anos, gosta mesmo é dos extremos, tanto é, que recebeu o título de atleta mais rápido do mundo acima de 61 anos na Antarctic Ice Marathon, em 15 anos de existência da prova. Mas essa é apenas uma das suas conquistas. O homem do gelo, ou melhor, Djalma Iceman, como é conhecido, já participou de uma das maratonas mais altas e difíceis do mundo, e correu sete maratonas em sete dias. Histórias que vão ser todas contadas em um livro, mas o ultramaratonista conta os detalhes antes, para os leitores da Runners Brasil. Acompanhe!
Sabine Weiler: Qual motivo te levou a correr e quanto tempo já faz isso?
Djalma Moura: Na época, os problemas de saúde da minha sogra juntamente com meu hábito de assistir à Corrida Internacional de São Silvestre pela TV – a mais tradicional prova de corrida do Brasil – fizeram-me refletir sobre o que eu poderia fazer para usufruir de saúde e uma melhor qualidade de vida nos anos que viriam. Então, há quase 20 anos tomei a decisão de praticar a corrida com constância.
Sabine: É possível ainda contar quantas provas já correu?
Djalma: Já perdi as contas! Foram inúmeras corridas de 5km, 10km, 15km, 18km, 21km, uma maratona em dupla com minha esposa e mais de 17 maratonas no Brasil e exterior. Corri também provas de trilha (trail run) e ultramaratona. Na campanha solidária Kms Pela Doação de Órgãos 2020, no mês do “Setembro Verde”, conclui 1.011km, que foram doados para várias instituições beneficentes.
Sabine: Diante de um currículo esportivo que o senhor tem, qual foi a prova que mais te marcou? Por quê?
Djalma: A prova que mais me marcou foi a maratona do gelo na Antártica, a Antarctic Ice Marathon, prova que está no livro do Guinness World Record como a maratona mais ao sul do planeta, no local conhecido como Union Glacier a mais de 3.000km do continente sul-americano. Como eu não tinha a cultura do frio, tudo teria que dar certo naquele momento com sensação térmica de -30°C e era a minha estreia em maratona extrema, para correr numa superfície de gelo. Procurava cumprir aqui em Florianópolis as planilhas semanais programadas pelo meu orientador e técnico professor Roberto Lemos. Apesar das câimbras no final da maratona, do forte vento gelado e da falta de visibilidade (óculos congelou) e outras dificuldades, conclui a prova numa boa classificação tornando-me o atleta mais rápido do mundo acima de 61 anos na Antarctic Ice Marathon em 15 anos de existência dessa prova. Essa maratona foi marcante para mim e tem um significado grande, pois foi a minha estreia em provas extremas e onde eu conquistei o título mencionado. A Antártica é o continente mais alto, mais frio, mais ventoso e seco do planeta.
É preciso respeitar muito esse ambiente, ainda quase intocável, sob pena de ter que pagar um preço alto em termos de lesão, como por exemplo, frostbite – queimadura causada pela exposição ao frio extremo, em alguns casos tem que amputar parte do corpo.
Sabine: O seu nome também está marcado na Everest Marathon. Participar de uma prova como essa exige muito mais do que uma preparação para uma maratona, porque têm os dias que antecedem a prova, que são necessários para chegar até o ponto de largada. O que falar de uma prova como essa onde poucos chegam?
Djalma: A Everest Marathon é a maratona mais alta do mundo e uma das mais difíceis, onde o ponto de partida da prova é o campo base do Monte Everest, a 5.364 metros de altitude. Para começar a maratona é preciso chegar andando (trekking) até a largada para que haja uma aclimatação adequada e não sofrer com os efeitos da montanha, no meu caso durou 13 dias, subindo e descendo montanhas, passando por vários vilarejos, enfrentando frio, calor, chuva, neve praticamente sem tomar banho, o lenço higiênico é seu grande aliado. Eu diria, essa é uma maratona de sobrevivência, onde o ar é rarefeito. É preciso levar uma mochila com tudo que possa ser necessário a um ambiente tão inóspito como esse. O percurso da prova é repleto de pedras, milhões de pedras de vários tamanhos e formatos que estão soltas de maneira instáveis com milhares de degraus gigantes, tanto para subir como para descer, sendo que num eventual acidente, há grande chance de lesão grave e até de morte. A sinalização é precária apenas com pedacinhos de tiras de pano colocadas aleatoriamente nos arbustos. E até os yaks ficam na passagem e nesse caso você tem que parar e esperar que os animais saiam e liberem o caminho. Existe, por questão de segurança, um ponto de corte na maratona, isto é, se o atleta não chegar num determinado ponto do percurso em um determinado tempo, ele é obrigado a continuar no dia seguinte e nesse caso recebe uma punição de quatro horas. Em resumo, maratona muito difícil e perigosa e que exige um bom condicionamento físico e muita concentração.
Sabine: A partir de que momento o senhor começou a ser conhecido como Djalma Iceman. Qual a história por trás deste nome?
Djalma: Surgiu de uma matéria de capa de um jornal local, seção de esportes, onde o jornalista João Lucas começou a me chamar de “senhor das neves”, “homem do gelo” e nesse tempo os atletas de minha assessoria e outras pessoas começavam a dizer: lá vem o homem do gelo, chegou o homem do gelo para treinar, e então resolvi assumir como Djalma Iceman, que na realidade indica o meu nome e a atividade esportiva que abracei.
Sabine: Correr na neve tem grandes desafios. Qual foi o lugar mais inusitado que já fez uma corrida?
Djalma: O Polo Norte é algo quase inimaginável. Estou falando em correr uma maratona em um bloco de gelo flutuando no oceano Ártico, no topo do mundo, ao lado do 90° de latitude N – local onde todos os meridianos se encontram. A North Pole Marathon, que eu corri em 2018, está no Guinness como a mais ao norte do planeta. Temperatura com sensação térmica de -50°C, piso extremamente fofo, sendo furado o tempo todo pelo atleta, existindo apenas um ponto para abastecimento e troca de alguma peça do vestuário, se for o caso. Essa área do polo norte é reduto de urso polar, mas durante a maratona, pessoas da organização com armas ficam atentas aos animais, não para matá-los, apenas para causar um susto e afastá-los da área.
Sabine: Explica mais sobre como é possível enfrentar uma prova onde a temperatura é extremamente baixa o tempo todo, como a North Pole Marathon?
Djalma: É preciso estar atento e ser fiel às regras que a natureza impõe, por exemplo, em uma maratona como essa de frio intenso é preciso usar a roupa adequada, isto é, três camadas tanto na parte superior como na parte inferior do corpo, além de calçados com travas, touca, balaclava, óculos de proteção UVA e UVB, polainas e camadas de luvas. Durante toda a prova estar atento aos sinais produzidos pelo corpo e sinais externos do ambiente em questão e em quase todos os casos têm a necessidade de se utilizar um ponto de apoio para verificações do corpo e ter a possibilidade de fazer uso de bebidas e alimentos quentes.
Sabine: Sete maratonas em sete dias em sete continentes. O senhor é o primeiro brasileiro com mais de 60 anos a participar da World Marathon Challenge. Como foi, e qual o maior desafio enfrentado?
Djalma: Esse foi o maior desafio que enfrentei. Foram 7 maratonas consecutivas em ambientes distintos. As maiores dificuldades dentro desse desafio foram: não ter lugar adequado para descansar; Jet Lag; fusos horários diversos, protocolos de burocracia nos aeroportos de 7 continentes; diferença de temperatura de quase 50°C da primeira para a segunda maratona
Sabine: O que essa experiência trouxe de aprendizado ou mudou a sua vida em algum quesito?
Djalma: É preciso acessar a força interna que existe em cada um de nós. Eu não conhecia essa minha força, fui testado e superei minha própria expectativa. Para isso, é preciso acreditar, ser disciplinado e focado em seus objetivos.
Sabine: A sua primeira maratona foi aos 50 anos e em 2017, se tornou o atleta mais rápido do mundo, com mais de 60 anos, na Antarctic Ice Marathon. É mais uma prova de que quando se quer realizar, basta ter vontade e ir atrás, não é mesmo?
Djalma: Em 2006 foi a minha primeira maratona, em Florianópolis/SC, eu estava completando 50 anos de idade. Quando conquistei esse título de mais rápido do mundo (61+) na Antarctic Ice Marathon, em 15 anos de edição nessa prova, este resultado foi fruto do meu treinamento e da minha equipe de profissionais que muito me ajudou. E na verdade não fui lá para isso, fui apenas correr e dar o meu melhor. Eu sempre digo quando vou participar de uma maratona, eu vou para vencer meus medos e ultrapassar meus limites.
Sabine: O que lhe motiva a treinar para provas tão desafiadoras?
Djalma: Correr para mim significa saber que posso encontrar novos caminhos na vida e me tornar uma pessoa melhor e mais rica de conhecimento sobre a minha própria pessoa, sabendo mais das minhas forças e das minhas vulnerabilidades. É a fé, disciplina e foco que me mantém de pé e motivado para continuar, mesmo quando, em alguns dias, eu relute em treinar.
Sabine: Quando corre sempre leva junto a campanha da Doação de Órgãos. Em 2018 o senhor fez a Campanha 1.000km do Bem, em prol do Hospital Infantil, de Florianópolis. Em 2020 correu 1.000km no Movimento Nacional Km pela Doação de Órgãos. Um exemplo de que correr também é fazer bem ao próximo, não é mesmo?
Djalma: O Brasil ainda é um país muito desigual, e muitos não tiveram a oportunidade como eu tive na vida. E como eu fui impactado por pessoas para o esporte, eu procuro dar a minha parcela de contribuição procurando impactar positivamente pessoas para que possam tocar seus projetos no esporte ou em outra área da vida. Procuro sempre ajudar em meu entorno, seja com um incentivo em palestra, seja com campanha beneficente. No Movimento Nacional Km pela Doação fui agraciado com o título de Embaixador da Corrida.
Sabine: Qual o próximo desafio e qual deve marcar 2023?
Djalma: Esse é o spoiler. A minha trajetória nas provas extremas, e em outras, está sendo escrita em livro a ser publicado este ano de 2023.
Sabine: Para finalizar, qual recado o senhor quer deixar ao leitor da Runners Brasil?
Djalma: Tenha certeza de que nada e ninguém detém uma pessoa que acredita na sua força, é disciplinada e focada no seu projeto de vida.
Por: Sabine Weiler
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“Aproveitar a jornada com qualidade e alegria é primordial”. Doutor Corrida, como o próprio nome nas redes sociais já diz, é médico ultrassonografista, corredor e um viajante incansável. Em seis anos entre trilhas e asfaltos, Adriano Gomes Muniz Pereira, coleciona uma jornada apaixonante e admirável pelo mundo e vive cada corrida com uma intensidade única. Só em 2023, enfrentou a incrível marca de 29 provas entre maratonas e ultramaratonas, e começa o ano em busca de mais conquistas e novas experiências por paisagens de tirar o fôlego. Adriano também é criador de conteúdo, e leva às redes sociais, cada nova descoberta, seus treinos, dicas para os amantes do esporte e notícias do mundo da corrida. Sua comunidade nas redes sociais já ultrapassa 120 mil pessoas, entre instagram e Youtube. Mas como se recuperar diante de uma vida tão corrida em meio a uma rotina pesada no trabalho? É o que o pernambucano conta à Runners Brasil, em uma entrevista cheia de inspiração e motivação.
Sabine Weiler: Corrida para você, é sinônimo de longas distâncias. Qual foi o momento da sua vida de atleta que decidiu correr maratonas e ultramaratonas?
Doutor Corrida: No início comecei a participar das provas mais curtas como 10km. Sempre associei o prazer de correr em dois aspectos: o “curtir o caminho”, conhecer as paisagens e lugares em que estou correndo e o “superar um desafio”. Com o tempo notei que as longas distâncias me entregavam uma maior variedade de caminhos para curtir, e um desafio mais difícil, consequentemente um sentimento de superação maior. As longas distâncias acabam potencializando os fatores que me dão prazer na corrida.
Sabine: Como você escolhe as suas provas?
Doutor Corrida: Hoje em dia faço uma mescla de provas que gosto e quero correr, outras que não conheço, mas sou convidado e tenho boas referências dos amigos da corrida, e aquelas em que acho que apresentar a experiência será positivo para meus seguidores. Apesar de ser um corredor que gosta muito de correr em trilhas, acabo correndo muito provas de asfalto também. Costumo diversificar as experiências na corrida.
Sabine: Você viaja o mundo com a corrida! Como planeja cada prova no seu calendário?
Doutor Corrida: Apesar de algumas pessoas acharem que saio empilhando provas sem critérios, geralmente escolho três ou quatro provas alvo no ano e vou adaptando as outras para entrarem como ferramentas na preparação para essas provas. Não corro as provas sempre buscando performance, em 2023 foram 09 maratonas e 16 ultras, então é humanamente impossível performar em todas, cada uma tem o jeito correto de gerenciar segundo meus objetivos principais.
Sabine: Como é a sua rotina quando não está viajando? Como concilia o trabalho com os treinos?
Doutor Corrida: Sou médico e, ao contrário do que alguns pensam, não vivo só de correr, tenho uma rotina bem pesada, e para fazer o volume de treinos necessário, tenho que treinar antes do trabalho e a noite quando chego em casa. Treino dois períodos de segunda a quinta, descanso sexta, e sábados ou domingos tenho longos ou provas.
Sabine: Como você se recupera de uma corrida? Faz algum intervalo mais longo no pós-prova?
Doutor Corrida: Como as corridas são muito próximas uma da outra, faço uma recuperação ativa, onde diminuo o volume, e trabalho com massagens e regenerativos. Acaba não sendo muito complicado, pois tenho um corpo adaptado a esse ritmo e que considero de rápida regeneração. Ser médico ajuda muito por saber conhecer os diversos sinais corporais e, apesar de conhecer as opções de medicamentos, raramente recorro a algum deles.
Sabine: O que considera mais importante para que o corpo se recupere de uma prova de longa distância?
Doutor Corrida: Saber reconhecer os sinais e atuar naquilo que o corpo te apresenta. Reconhecer quando existe uma simples dor pós-atividade ou algo que pode evoluir para uma lesão, saber a hora certa de exigir dele após um estímulo mais intenso. Saber dialogar com ele.
Sabine: Qual foi a prova mais longa que você fez e descreva como foi o processo do pós-prova já pensando no próximo objetivo!
Doutor Corrida: A maior distância foi de 250km, porém foi dividido em quatro dias, o que facilitou o processo de recuperação. O desafio era uma ultra de 55km na semana seguinte que acabei fazendo com cautela e deu tudo certo. Já tive provas de montanha com mais de 30 horas de duração e geralmente uma semana seguinte de recuperação e treinos leves já funcionam para mim.
Sabine: Você suplementa? Que tipos de suplementos usa para ajudar na recuperação muscular?
Doutor Corrida: Considero que o melhor suplemento é disparadamente uma boa alimentação. Tento focar nisso na etapa pós-prova e realmente acho que faz diferença na recuperação. Algumas pessoas acabam querendo extravasar na alimentação nesse período e isso não é bom. Suplementos que uso no dia a dia incluem Creatina, beta alanina, glucosamina e condroitina. Mas sou reticente ao indicar o que uso para todos. Acho que cada caso é um caso e o melhor é que o atleta converse com um profissional de nutrição para avaliar bem suas necessidades.
Sabine: Usa algum tipo de tecnologia para se recuperar dos treinos diários ou de uma prova longa para iniciar um novo ciclo de treinamento?
Doutor Corrida: Único aparelho é uma pistola de massagem. Já usei botas de compressão pneumática, mas não uso rotineiramente.
Sabine: É adepto a algum tipo de alimentação que o ajuda nos treinos e na regeneração?
Doutor Corrida: Já fui o tipo de corredor que não ligava muito para a alimentação. Mas com o tempo realmente percebi que isso é um dos aspectos que mais faz diferença na vida do corredor. Uma alimentação balanceada e bem estruturada realmente funciona muito bem na performance e na regeneração do corredor, especialmente no que se diz a retirar os ultraprocessados e evitar o abuso de carboidratos, gorduras ruins e bebidas alcoólicas.
Sabine: Em algum momento da sua vida de atleta, você teve que parar algum treino ou até mesmo uma prova, e depois percebeu que não estava recuperado totalmente para voltar a correr? Se sim, como foi esse processo?
Doutor Corrida: Geralmente não costumo interromper treinos, apenas se sentir que há algum risco de lesão ou que está muito improdutivo. Prova só abandonei por trauma do joelho que bateu em uma rocha durante a corrida. No momento que algo assim acontece, tem que se avaliar os sinais que o corpo entrega e trabalhar bem na recuperação, ser profissional da saúde é fundamental para mim nesses momentos.
Sabine: Quais são suas metas para 2024 na corrida? Vem alguma prova inusitada, ousada?
Doutor Corrida: Trilheiro que sou, estou trabalhando para chegar a UTMB, que considero o mais alto patamar de minha categoria. Penso que a UTMB está para o trilheiro, como a Maratona de Boston está para o corredor do asfalto. Faço questão de perseguir esse sonho e mostrar a todos que também o tem, que ele é perfeitamente possível para um corredor amador, que tem uma vida normal, trabalha e tem boletos a pagar.
Sabine: O que te motiva a percorrer o mundo com a corrida? Você procura fazer provas que não existem no Brasil?
Doutor Corrida: Adoro viajar, viver experiências e culturas diferentes, e adoro correr. Por que não unir tudo isso? Geralmente tento correr entre duas e quatro provas internacionais por ano. Sei que é difícil para a maioria das pessoas, mas também sei que se programando e trabalhando nesse sonho, às vezes se consegue viver essa experiência.
Sabine: No seu Instagram você divulga seus treinos, provas e traz conteúdos que incentivam a corrida e curiosidades! Como você formou a sua comunidade que já chega a 100 mil seguidores?
Doutor Corrida: Acho que o principal é criar um conteúdo não focado só no que eu faço. Correr mais de 20 provas grandes em um ano não é o que o corredor normal vai fazer, certamente é uma realidade de poucos. Se só foco apenas nisso, qual o ganho real para o corredor normal? Na verdade, faço um conteúdo para todos, um corredor de trilha vai encontrar dicas para a trilha, um de asfalto vai encontrar dicas para o asfalto, aquele que precisa de uma palavra de estímulo vai encontrar essa palavra e até quem quer só se divertir e ver um meme de corrida vai achar um conteúdo para si também. Essa diversidade que atrai tantas pessoas para o meu perfil.
Sabine: A sua Bio do Instagram traz a frase “O maior desafio é superar o medo de falhar!” Como lidar e enfrentar isso?
Doutor Corrida: Muitos pensam que as maiores dificuldades são encontradas na prova em si, naquele momento em que podemos falhar ou não. Mas o momento em que superamos o medo de falhar acontece muito antes da prova em si: é no instante que mesmo podendo falhar, tomamos a decisão de lutar arduamente para superar todos os desafios! Essa é a hora chave da vitória – mesmo sabendo que pode dar errado, nos levantamos e partimos para o combate, nos inscrevemos na prova e iniciamos os treinos.
Sabine: Qual recado você deixa aos leitores da Runners Brasil?
Doutor Corrida: Muitos consideram a corrida como um esporte de competição, buscam sempre dar o melhor e conquistar os seus objetivos – e nada mal ter esses pensamentos. Mas meu conselho é: pensem na corrida como uma ferramenta de saúde e felicidade. Aproveitar a jornada com qualidade e alegria é primordial, o restante virá naturalmente.
Por: Sabine Weiler
Q&A Runners Brasil
Uma Odisséia Brasileira: Pedro Luiz Cianfarani na Barkley Marathon
Publicados
9 meses atrásem
28/11/2023De
Pablo MateusNa busca por desafios extremos, poucos eventos se comparam à lendária Barkley Marathon. Este ultramaratonista brasileiro, Pedro Luiz Cianfarani, alcançou um feito notável ao se tornar o segundo brasileiro a se qualificar para essa corrida mítica, depois de seis anos de determinação incansável. Neste Q&A exclusivo, Pedro compartilha sua jornada, revela os desafios enfrentados, e oferece insights valiosos sobre como ele está se preparando mentalmente e fisicamente para enfrentar os terrenos difíceis e condições imprevisíveis da Barkley Marathon. Vamos mergulhar nas profundezas deste desafio extraordinário e conhecer a mentalidade por trás dessa busca épica.
Runners Brasil: Como você se sente sendo o segundo brasileiro a se qualificar para a Barkley Marathon depois de seis anos de tentativas?
Pedro Luiz Cianfarani: Um sonho realizado!!! Quando comentei com um amigo escutei muito que seria quase impossível, mas provei que não era impossível, difícil sim, não impossível.
RB: Quais foram os principais desafios que você enfrentou ao longo desses seis anos para alcançar a qualificação para a Barkley Marathon?
PL: Eu comentei que este desafio começa para conseguir ser chamado, pois como não tem um site ou app para fazer a inscrição tudo fica mais difícil e você precisa descobrir como ser convocado.
RB: Como foi o processo de seleção e qualificação para a Barkley Marathon? Quais critérios você teve que atender para se qualificar?
PL: Esta pergunta fica difícil responder por ética ao desafio, nem o dia da competição posso falar, são coisas que é pedido no único canal de informação da prova no Facebook que também é um grupo restrito. Esta competição é única por isso mesmo, pelo mistério que ela envolve.
RB: A Barkley Marathon é conhecida por seu terreno extremamente desafiador e condições climáticas imprevisíveis. Como você está se preparando fisicamente e mentalmente para enfrentar esses desafios?
PL: Sei que tudo neste desafio é feito para não completarmos e lutaremos o tempo todo contra. Já estou acostumado com desafios extremos onde levamos o corpo ao limite e mesmo assim sei que nada se compara. Tenho uma equipe de profissionais ao meu lado preciso aprimorar minha navegação com mapa e já estou contatando um profissional para me auxiliar. Minha equipe é coordenada pelo meu irmão que é um profissional de educação física com muitos anos de experiência.
RB: A navegação é fundamental na Barkley, já que não há sinalização clara. Como você está se preparando para a parte de orientação da corrida?
PL: Como disse anteriormente, já contatei um profissional para me auxiliar com navegação por mapa e irei intensificar meus treinos de Trail e força.
RB: O limite de tempo da Barkley é notoriamente difícil, com apenas 60 horas para completar as cinco voltas. Como você está planejando gerenciar seu tempo e energia ao longo da corrida?
PL: Já estou me programando no tempo de 12 horas por volta.
RB: O criador da Barkley, Gary “Lazarus Lake” Cantrell, é uma figura misteriosa e excêntrica. Você teve a oportunidade de interagir com ele? Se sim, que conselhos ou insights ele compartilhou?
PL: Já troquei muitos e-mails com ele principalmente quando me classifiquei para o mundial de Backyard (Resta 1), prova idealizada também por ele e que infelizmente não fui devido a pandemia. Quanto a conselhos ele fala muito pouco sobre a prova e conseguimos as dicas e conselhos pelos veteranos no Grupo do Google e Facebook.
Fotos: Arquivo Pedro Luiz
RB: Qual é a sua maior motivação para enfrentar a Barkley Marathon, considerada uma das corridas mais difíceis do mundo?
PL: A participação nesta icônica corrida irá coroar minha trajetória no mundo das ultramaratonas, já fiz as mais difíceis ultramaratonas no Brasil e no Mundo sempre sonhei com esta que seria a cereja do bolo, uma cereja um pouco amarga eu sei rsrsrs
RB: Você tem algum plano de estratégia específico para a Barkley Marathon, ou está aberto a improvisar à medida que a corrida se desenrola?
PL: Irei com uma estratégia, mas tudo poderá mudar conforme a corrida vai acontecendo. Um veterano de 6 participação na Barkley estará comigo para me ajudar no planejamento.
RB: Como você espera que sua experiência na Barkley Marathon influencie seu futuro como corredor de ultramaratona e seus objetivos no esporte?
Quero abrir as portas da Barkley para os Ultramaratonistas do Brasil e América Latina, sei que temos muitos ultramaratonistas de nível muito alto que se sairia muito bem.
Pedro Luiz Cianfarani
Nascido em 21 de abril de 1968 em São Caetano do Sul mudando para São Bernardo do Campo após o casamento em setembro de 1989.
Início nas corridas de rua em dezembro de 1998 na corrida de Natal no Ibirapuera e no mundo da Ultramaratona em 2006 em uma corrida de 6 horas organizada pelo Carlos Dias. Deste dia até hoje foram inúmeras provas de longa distância, 100 km, 50 km, 50 milhas, 12, 24 e 48 horas e provas como Brazil 135, Uai, 300 o desafio, Badwater 135, LLAJTAY BACKYARD ULTRA e outras.
Principais provas
Brazil 135 (217 a 260 Km pelo Caminho da Fé)- 12 participações e conclusões com melhor tempo de 35 horas / 300 o Desafio/RMR (300km pela Estrada Real) – 3 participações e conclusão – 3º , 4º e 5ª colocação / Badwater 135 (217km no Vale da morte) – concluída em 2018 / LLAJTAY Backyard Bolívia 2019 e 2023 (resta 1) – 2º colocado em 2019 – Com este resultado conseguido na Backyard Bolívia me garantiu uma vaga no mundial no Tennessee (EUA) que infelizmente não participei devido as restrições impostas pelos EUA devido a pandemia em fechar as fronteiras / 48 horas Internacional da Mantiqueira – 316 km – 2º colocado e 19º ranking mundial em 2018 /24 horas – foram muitas pelo Brasil (SP, RJ e Paraná)
Por: Pablo Mateus
“Não existe treino ruim, existe dia ruim por não ter treinado”. Marcelo Avelar, treinador e único atleta do mundo tricampeão da Meia Maratona da Disney, conversou com a Runners Brasil e traz dicas de como saber lidar com o processo para conquistar a distância desejada nas pistas. O que não pode faltar nos treinamentos, como evitar as lesões e muito mais para evoluir no esporte. Avelar, foi o melhor brasileiro na Maratona de Tokyo de 2023, treina centenas de pessoas pelo Brasil, e como todo corredor tem sonho de atleta.
Sabine Weiler: Qual a dica inicial que todo corredor deve saber para evoluir na corrida?
Marcelo Avelar: Todo corredor para evoluir precisa ter paciência e saber lidar com o processo. O dia da prova é “só” ir buscar a medalha. A conquista dela é em cada treino, cada abrir mão, cada gota de suor. O processo depende de muita paciência e saber que a construção vai ser de muita dedicação.
Sabine: Quais são as principais diferenças no treinamento entre correr distâncias curtas, e se preparar para uma maratona?
Avelar: As distâncias curtas dependem mais de intensidade do que volume. Quando falamos de 5km ou 10km por exemplo, falamos de intensidade, são provas mais curtas e que os treinos intervalados são mais valorizados que os treinos volumosos. A maratona depende mais de volume, de treinos mais longos e mais lentos se comparados para provas curtas.
Sabine: Alguns corredores podem até não gostar de fazer fortalecimento, mas é fundamental na corrida, para maximizar o desempenho e evitar lesões, não é mesmo?
Avelar: Os treinos de força, sejam eles de musculação ou funcional devem sim fazer parte da rotina de todo corredor. Claro que não são imprescindíveis, mas é comprovado que corredores que inserem esse tipo de treino no dia a dia sofrem menos lesões e tem melhoria no desempenho nos treinos e provas.
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Sabine: Como aumentar gradualmente a quilometragem sem correr o risco de lesões durante o treinamento?
Avelar: O aumento de volume se dá gradualmente e geralmente a cada 15 dias aumentam-se 2km a cada treino longo.
Sabine: Um corredor iniciante quando corre 5km, logo pensa nos 10km, e depois nos 15km. Existe um período para evoluir na corrida? Qual a dica para segurar a empolgação de um corredor e respeitar o processo para evoluir?
Avelar: Sugere-se que após 10 provas em média de 10km aumente o volume aos poucos até uma prova de 21km. A partir daí, o volume vai aumentando para talvez, uma maratona. Eu sugiro que após a 5ª ou 6ª meia maratona, acrescente volume aos poucos para uma estreia segura na maratona.
Sabine: Que tipo de treino é fundamental para o processo de evolução na corrida?
Avelar: Todos os treinos são importantes: ritmo, fartlek, intervalados, regenerativo e longos. Todos na medida correta se completam. Depende do objetivo para decidir quais praticar mais. Por exemplo, corredores se preparando para a maratona, damos ênfase em treinos mais longos, corredores de curta distância usamos mais intervalados e treino de ritmo. No geral os treinos se completam e o que decide o “uso” mais de um ou de outro é a demanda da distância escolhida. Ah, não podemos esquecer que descansar também é treino e são nos dias OFF que acontecem os ganhos.
Sabine: Quais são os sinais de alerta de ‘overtraining’ e como evitar o excesso de treinamento ao aumentar a distância percorrida?
Avelar: Sinais como insônia, falta de libido, não progredir, mau humor, fadiga extrema são sinais de que você está treinando muito e entrando em ‘overtrainnig’
Sabine: Quais são os principais obstáculos que os corredores enfrentam ao buscar a evolução e como superá-los?
Avelar: Se lesionar é o pior obstáculo e geralmente acontece pelo aumento de volume inadequado, falta de fortalecimento ou erros mecânicos na corrida. Uma técnica com movimentos básicos errados (aterrissagem, oscilação vertical excessiva etc.) podem acarretar lesões e afastar o corredor das atividades e isso desmotiva e traz muitas vezes o abandono da modalidade.
Sabine: Como um atleta pode ‘medir’ a evolução na corrida. Apenas com a melhora dos tempos?
Avelar: Melhorar os tempos nem sempre é sinal de melhoria. É necessário observar como tem chegado ao final dos treinos e das provas. Melhorar o treino indica melhoria sim, mas o corredor está chegando ao final dos treinos sem dores, sem aquela sensação de “quase morte”? Menor número de lesões e vontade de ir para mais provas? Isso tudo demonstra evolução.
Sabine: Além de um treinador, que outros profissionais são essenciais para o corredor evoluir na corrida?
Avelar: O treinador é quem prescreve os treinos e viabiliza o caminho para conquistar os objetivos, mas ter uma equipe multidisciplinar que conta com um nutricionista e fisioterapeuta são essenciais. De nada adianta ter um treino bem prescrito e não ter uma alimentação de acordo com a demanda de treino ou um fisioterapeuta para terapias manuais preventivas.
Sabine: Como que os alimentos e suplementos podem ajudar na corrida e em que momento que o atleta deve começar a fazer uso?
Avelar: Nem tudo que precisamos, conseguimos tirar dos alimentos, pois a demanda de nutrientes de quem corre é maior do que pessoas que não praticam a corrida. Por isso precisamos ter auxílio nutricional de alguns suplementos, como por exemplo gel de carboidrato, como intra prova.
Sabine: Você, como atleta, o que você mais aprendeu com a corrida?
Avelar: Aprendi que apesar de correr sozinho, a corrida se trata do esporte mais coletivo que existe. Sempre estaremos e precisamos de outros corredores. Além disso, aprendemos a conhecer limites do corpo e a respeitar todos, sem julgar se são lentos, rápidos, correm 5km ou maratonas
Sabine: Você é o único atleta do mundo a ser tricampeão da Meia da Disney. O que foi fundamental para manter a performance e defender o título a cada participação?
Avelar: A paixão pela corrida me fez manter a rotina de treinos. Conquistar a Disney foi consequência de um amor pela corrida e saber que a disciplina faz parte de uma sequência para a vida inteira, não somente um projeto e momento.
Sabine: Qual o sonho de atleta de Marcelo Avelar?
Avelar: Conseguir deixar um legado sobre a ferramenta que a corrida é. Uma ferramenta de transformação social e na vida das pessoas. Podemos através da corrida inserir pessoas no esporte, mostrando que todos somos capazes e que necessariamente não precisamos ser campeões, o que importa é sermos indivíduos transformadores do mundo, alegres e que podemos compartilhar isso pelo mundo.
Sabine: Você foi o melhor brasileiro na Maratona de Tokyo de 2023. O que representa essa conquista para você?
Avelar: Ser o melhor brasileiro em Tokyo com 2h30m32s na maratona foi uma conquista recheada de coisas boas. Tive a oportunidade de conhecer outro continente, uma cultura totalmente diferente e uma vivência que reforçou ainda mais meus pensamentos sobre respeito pelo próximo. Uma das experiências mais lindas da minha vida.
Sabine: Para encerrar, qual a mensagem você quer deixar aos leitores da Runners Brasil?
Avelar: Treinem! Não vão existir somente dias bons. Treine nos dias bons e treine mais ainda nos dias ruins. Na verdade, não existe treino ruim, existe dia ruim por não ter treinado.
Por: Sabine Weiler
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