Arrisco dizer que corredores são extremamente engajados em todos os sentidos; caso contrário não estaríamos aqui. À medida em que o praticante da corrida de rua começa a percorrer distâncias maiores, logo passa a observar o seu ritmo como grande desafio, e então, entra de cabeça para o mundo das provas de rua. Inevitavelmente, a corrida se torna o centro das conversas e da vida daqueles que acabam adquirindo esse hábito tão prazeroso.
É praxe que depois que o bicho do esporte pica, o corredor passa a adaptar o seu mundo, sua rotina e até mesmo o seu ciclo social. Automaticamente o universo ao seu redor passa a ser voltado para o do esporte, e, naturalmente boa parte dos praticantes amadores acabam buscando assessorias e grupos de corrida dos quais vão ajudar não só na organização da prática, como na evolução das performances individuais. A grosso modo, esse passo a passo foi o que aconteceu comigo nos três anos em que venho praticando a corrida de rua, e acredito que muita gente deve se identificar.
Nessa coluna, não pretendo falar ou passar dicas sobre como correr de maneira saudável ou o quão importante é buscar orientação profissional. Afinal, excelentes profissionais que fazem parte do editorial da Runners Brasil destrincham sobre estes e outros temas extremamente relevantes de forma didática e acessível. Aqui, buscarei tentar organizar pensamentos para dizer o que correr significa para mim como pessoa, compartilhando relatos e reflexões pessoais.
Há algum tempo venho pensando sobre a essência da minha relação com a corrida; no princípio desse relacionamento, o esporte surgiu para mim como forma de combate (literalmente) a depressão e ansiedade. Não desejo transformar esse texto em história autoajuda melodramática, mas devo creditar à corrida de rua grande parte da minha superação com a doença – claro que além dela – o acompanhamento profissional. É mais do que sabido que o esporte é forte arma contra esses tipos de adversidades psicológicas.
No início da minha jornada, me recordo de correr sem obrigações de horários, sem a menor preocupação com o ritmo – não sabia o que era pace e outros termos “obrigatórios” do vocabulário do corredor – e sem noção nenhuma de distâncias ou metas e objetivos. Era exclusivamente pelo puro prazer.
De tempos pra cá, percebi que a minha relação com a corrida acabou se corrompendo muito. Venho produzindo conteúdo para as redes sociais voltadas para o esporte, e claro que em contrapartida consumindo muito do mesmo. Comecei a observar uma frustração gigantesca enquanto estive lesionado ao abrir às redes – e me deparar apenas com conteúdos voltados para a corrida. Fiquei pilhado e, até mesmo estressado com as pessoas ao meu redor. Claro que a abstinência do esporte e dos hormônios que a corrida libera no corpo devem ser levados em consideração.
Porém, percebi minha limitação autocrítica com o uso das redes para não se sabotar em outros momentos. Depois de algumas sessões de fisioterapia e apto para correr novamente, busquei tentar recuperar a essência do que para mim, correr é e sempre foi. Um esporte que, acima de tudo, é para o meu prazer pessoal e individual. Depois de um período em treinamento rígido para as primeiras meias maratonas das quais completei, resolvi voltar, temporariamente, aos treinos sem obrigatoriedade de horários e sem foco em performance. Confesso que, para mim nesse momento, isso tem feito muito bem.
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