Conexão Run - Brasil e Portugal
As mulheres não querem uma cantada dos homens. As mulheres só querem correr em paz

Publicados
2 semanas atrásem
De
Sara Veloso
O assédio sexual no desporto sempre existiu, continua a existir, e existe em ambos os sexos. Com a evolução dos valores sociais e culturais, o assédio sexual começou a ser cada vez mais questionado e debatido. Haverá seguramente quem goste de ser abordado na rua por desconhecidos, sentindo isso como uma massagem no ego. Mas quer parecer-me que a maioria das pessoas (falo sobretudo de mulheres, uma realidade que conheço melhor) sente um piropo (cantada/xavexo) como uma invasão da sua individualidade, uma humilhação, e um desrespeito que nos dias de hoje não faz grande sentido. Se não sabem como é que um piropo vai ser recebido por outra pessoa, então não o façam, não invadam o espaço do outro. Na dúvida, o mais sensato e correto é não o fazerem.
Repito: assédio sexual no desporto acontece tanto com homens como com mulheres, mas é mais sério, ameaçador e grave quando é feito de um homem para uma mulher, devido à normal desproporção da força física entre os dois sexos e do quão intimidante um piropo se pode tornar para alguém mais frágil.
Considero-me uma mulher mentalmente forte e que não se deixa intimidar facilmente. Sempre fui muito independente, destemida, com o mindset programado para “se eu não o fizer, ninguém o fará por mim”. Viajei muitas vezes sozinha, viajei várias vezes com desconhecidos, vivi sozinha na Lituânia, vivo sozinha em Lisboa. E foi esta solidão — aliada à vontade de não deixar de fazer as coisas de que gosto por estar sozinha — que impulsionou a minha forma de ser e de estar. Não deixo de treinar na rua seja a que horas for, seja onde for. Mas há mulheres que não são assim. Que não treinam na rua se estiver escuro. Que não correm na rua nos meses de inverno porque há menos luz natural. Que não correm em determinados locais porque têm medo. Que só correm acompanhadas. E este medo é empolado pela possibilidade de serem abordadas por homens, leia-se por “pessoas com mais força física”. E isto é triste. É injusto. É ridículo.
As mulheres, quando abordadas na rua, automaticamente sentem-se ameaçadas porque sabem que se aquele homem quiser, no limite, pode fazer o que quiser, porque será uma luta física desigual. E acho que é muito isto que nós, mulheres, sentimos quando ouvimos um piropo, sobretudo se for daqueles mais agressivos: medo. Nós não conseguimos racionalizar, nós não conseguimos avaliar se a abordagem foi positiva ou negativa, nós só nos sentimos ameaçadas. O nosso batimento cardíaco acelera, sentimos impotência, sentimo-nos desprotegidas e frágeis.
Sabendo os homens disto, e acreditando que 90% das vezes não têm a pretensão de assustar a mulher, penso que vai sendo tempo de repensar o piropo à mulher que passa na rua a fazer exercício.

Há cerca de um mês tive uma experiência de assédio que me motivou a falar sobre este tema nas minhas redes sociais, e agora aqui. Estava de férias em Nápoles, Itália, e estava a preparar a Maratona de Madrid. Tinha o meu treino longo para fazer, acordei cedo e fui. Perto de um parque, fui abordada por um grupo composto por homens, jovens, que estavam sentados num muro, a fumar. Dois deles saltaram do muro e começaram a correr ao meu lado por uns segundos. Foi muito desestabilizador para mim porque fiquei com receio que me bloqueassem a passagem ou me tocassem. Fiquei nervosa, inquieta, com medo.
Estamos em 2023 e isto ainda acontece. Olhares inconvenientes, piadas desagradáveis, piropos sexistas, atitudes invasivas. Fomos educados para “ignorar”, para “não dar relevância”. Mas ignorar só vai fazer com que estas atitudes se perpetuem no tempo. Por isso, temos de falar! Temos de ensinar às gerações futuras que o assédio é errado.
Memorizem: As mulheres não querem o piropo dos homens. As mulheres só querem correr em paz e segurança. Sem abordagens e sem interações.
Título original: As mulheres não querem um piropo dos homens. As mulheres só querem correr em paz.
Por: Sara Veloso

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Conexão Run - Brasil e Portugal
Eu não corro para ser magra, eu corro para ser feliz

Publicados
5 dias atrásem
29/05/2023De
Sara Veloso
Frequentemente recebo mensagens no Instagram com comentários ao meu aspeto físico. Maioritariamente são comentários positivos, elogios sinceros de pessoas que me veem como uma fonte de inspiração para se exercitarem, porque sentem o meu entusiasmo a fazer desporto. Mas também recebo alguns comentários negativos, pouco construtivos e inúteis. E sobre este tema – comentários ao aspeto físico — há duas coisas sobre as quais gostava de falar.
Em primeiro lugar, quando partilho fotografias a fazer exercício — naturalmente com roupa desportiva, calções, tops — não estou à procura de comentários ao meu aspeto físico. Nem positivos nem negativos. Estou simplesmente a partilhar um momento agradável do meu dia, em que estou feliz, em que estou orgulhosa do meu esforço e da minha dedicação ao treino. E os comentários ao meu corpo (bons ou maus) desvirtuam a mensagem que quero passar. Honestamente, acho que as referências ao corpo de outra pessoa (sobretudo quando não a conhecemos) são desnecessárias. Nunca sabemos o impacto que um “estás magro demais” ou “estás gordo demais” poderá ter no outro.
Em segundo lugar, queria dizer-vos que eu não corro para ser magra, eu corro para ser feliz e para me sentir bem. O exercício físico faz parte da minha rotina, tal como lavar os dentes, tomar banho ou pôr a roupa a lavar, há praticamente 20 anos. Comentários como “estás demasiado musculada” e “para a quantidade de exercício que fazes deverias estar mais magra” são só inúteis.
Eu e a maioria das pessoas que conheço, e que faz exercício regularmente, não o faz para ter determinado tipo de corpo. Pratica desporto porque encontra nesta rotina uma terapia, um equilíbrio, uma liberdade, e a consequência é a melhor possível: melhorias na saúde física e também mental.
O corpo mais trabalhado é só uma consequência do exercício físico. Não posso ser hipócrita e dizer que não gosto de ter um corpo delineado e tonificado. Gosto. Sinto-me mais bonita e mais confiante. Aumenta-me a autoestima e eleva-me o amor próprio. Mas o que me motiva a fazer exercício não é o resultado físico em termos de beleza. É exponencialmente mais. É um motivo maior. É literalmente saúde física e saúde mental. Por isso, escusam de criticar o meu corpo com observações negativas. Ele é uma máquina incrível. Permite-me correr maratonas. Levantar pesos. Ser ágil, veloz e forte. E é isso que é importante. Correr diminui a minha ansiedade, dá-me energia, vitalidade, confiança, felicidade, poder! Não acham que tudo isto somado é muito maior do que estar mais ou menos magra?
Acredito, inclusive, que quem faz exercício físico com o único objetivo de perder peso ou ganhar massa muscular acaba por desistir nalgum momento do processo. E isso acontece porque está a colocar demasiada pressão no exercício físico. Ter um corpo perfeito, seja lá o que isso signifique nos dias de hoje, exige muito mais do que fazer exercício, requer foco na alimentação, descanso reparador, tratamentos estéticos, hidratação.
A perfeição das redes sociais não existe na vida real e quem a persegue paga muito caro em termos psicológicos. Criticar os corpos dos outros nas redes sociais, publicamente ou por mensagem privada, só aumenta o flagelo da pressão estética, que todos condenamos e criticamos, mas que todos perpetuamos ao continuarmos com estas atitudes.
Por: Sara Veloso

Conexão Run - Brasil e Portugal
Como a corrida me faz ser melhor pessoa e melhor profissional

Publicados
3 semanas atrásem
15/05/2023De
Sara Veloso
O exercício não me tira energia, o exercício dá-me energia.
Gosto de fazer exercício de manhã, bem cedo. É assim há anos. Ao contrário do que muitos pensam, não chego ao trabalho cansada. Chego com energia, vitalidade, e boa disposição. Nem sempre é fácil saltar da cama às seis da manhã, principalmente quando se tem uma vida social ativa, mas a sensação de bem-estar e de dever cumprido compensa qualquer dificuldade e permanece ao longo do dia.
A prática regular de exercício é vista por muitos gestores de recursos humanos como uma mais-valia e é fácil perceber porquê. A atividade física fortalece a imunidade e pessoas mais saudáveis ficam menos vezes doentes, logo, representam menos custos para as empresas. A minha experiência confirma esta ideia. Trabalho numa instituição bancária há 15 anos e apenas tenho o registo de 5 dias de ausência por razões de doença. Mas as vantagens de se ter um praticante regular de exercício numa equipa de trabalho não se ficam por aqui.
Os desportistas, e particularmente os corredores de longas distâncias, adquirem uma disciplina e hábitos essenciais para que consigam cumprir os seus treinos, e, depois, levam isso para a vida. Um maratonista, por exemplo, durante a preparação de uma prova, passa por várias dificuldades que tem de aprender a gerir e a superar. Essa aprendizagem, se aplicada na atividade profissional, inevitavelmente trará melhorias na produtividade, na eficácia e eficiência laborais. Um maratonista tem de ser resiliente, tem de aprender a ultrapassar as frustrações de resultados menos bons (em treino ou em prova), tem de ser dedicado, tem de ter foco e persistência. A corrida também lhe permite desenvolver o espírito de competição, porque um corredor de rua amador compete diariamente contra si mesmo, e não contra os outros — compete para melhorar os seus tempos, a sua performance, a respiração, para alcançar uma certa distância. Essa capacidade competitiva ajuda a que um corredor queira, também na sua vida profissional, progredir, ser sempre melhor, sem desistir, sem vacilar.
De todas as vantagens mencionadas, as de que vou falar agora são sem dúvida as que mais valorizo. A corrida ajuda-nos a aliviar a ansiedade e o stress. Deixa-nos mais bem-dispostos, mais bem-humorados, mais felizes. A corrida é para mim e para muitos, terapêutica. É um boost de saúde física e de saúde mental. E mais, permite-nos conhecer pessoas novas, fazer amizades, construir laços e criar memórias.

Em 2019, fiz uma viagem com quatro amigos ao Panamá e Costa Rica. No último dia, em Bocas del Toro, acordei cedo e fui correr. Ao passar pelo aeroporto, decidi entrar e correr na pista de aviação. O aeroporto não é vedado, tem o piso plano e no dia anterior eu tinha visto miúdos (crianças) a jogar à bola na pista. Estava a correr há uns 5 minutos quando comecei a ouvir uns passos apressados atrás de mim. Eram dois seguranças. Fui detida. Como é obvio, é proibido correr na pista de aviação. Fiquei cerca de duas horas detida no aeroporto porque não tinha passaporte nem o visto de entrada no Panamá comigo. Fui com dois agentes da polícia ao hotel buscar o passaporte — ainda me recordo da cara dos meus amigos quando me viram entrar no quarto com dois polícias — ficaram simultaneamente preocupados e divertidos. Paguei uma multa bastante generosa (cerca de 120 dólares americanos), fiquei com um carimbo no meu passaporte de contraordenação internacional, mas terminei este episódio de forma muito divertida. O diretor do aeroporto, aquando da despedida, pediu-me para lhe dizer uma frase em espanhol e naquele momento só me saiu “se a ti te gusta a mim me encanta”. Se não fosse esta corrida, Bocas del Toro seria apenas um “check” na lista de cidades que quero visitar.
A corrida dá mais vida à vida, e dá-lhe histórias, experiências, memórias, que se guardam, que se partilham, que ficam para sempre. E não é muito melhor assim?
Vamos correr?
Por: Sara Veloso


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